Pesquisar no site
02.Abril
Memória e direitos humanos



É necessário recordar constantemente a ditadura militar/civil no Brasil, que durou de 1º de abril de 1964 a 15 de março de 1985, para evitar que essa parte dolorosa da história seja esquecida. No chamado Anos de Chumbo houve intensa repressão política, cassação de direitos políticos, extinção de partidos, Congresso Nacional fechado, censura à imprensa e à cultura, além de assassinatos, torturas, sequestros e exílios. O desrespeito aos direitos humanos foi total. 

A Operação Condor, uma aliança entre as ditaduras da América do Sul na década de 1970, visava reprimir a oposição a esses governos. Como sindicalista, representei o movimento sindical em Montevidéu, Uruguai, colaborando com a comissão de Alto Nível criada no Brasil para apoiar Lilian Celibertti e Universindo Dias, uruguaios sequestrados em Porto Alegre por policiais brasileiros e entregues a polícia daquele país. Jair Krischke, destacado defensor dos direitos humanos, foi uma figura símbolo nesse movimento que participei.

As greves, duramente combatidas pelo sistema policial e de inteligência da ditadura, desempenharam papel fundamental na luta por liberdade e democracia. Estávamos em constante monitoramento. Participei de uma greve no Polo Petroquímico do Rio Grande do Sul em 1983, onde um trabalhador foi gravemente ferido. O operário Calgenir Lauri dos Santos foi atingido por um tiro e teve uma das pernas amputadas. Nesse mesmo ano, realizamos uma marcha de Canoas até Porto Alegre, cerca de 20 quilômetros, exigindo eleições diretas para presidente do Brasil e melhores condições salariais para a classe trabalhadora.

Mesmo após todos esses anos, ecoa em minha alma uma antiga canção do argentino Leon Gieco: "Tudo está guardado na memória. O engano e a cumplicidade dos genocidas que estão soltos. A justiça que olha e não vê. Todas as promessas que se vão. Tudo está guardado na memória. A memória desperta os povos… Livre como o vento”. 

Memória e direitos humanos estão profundamente conectados, apontando para um caminho de esperança por uma vida mais humana e justa, com igualdade de direitos e oportunidades para todos. A memória viva restabelece a verdade e a justiça, permitindo que as sociedades confrontem eventos traumáticos. Os direitos humanos são fundamentais para combater injustiças, discriminações e promover respeito à diversidade, sendo portas de entrada para as transformações necessárias que o país tanto necessita. 

Crescer humanamente e coletivamente é buscar dignidade, solidariedade, fraternidade e justiça social. Esse é o nosso rumo. Caminhando com a memória viva e os direitos humanos. Ditadura, nunca mais! Temos compromisso para impedir a repetição dos tristes anos de chumbo. Democracia, sempre! 


Senador Paulo Paim (PT/RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado.

Fonte: Livro "Tempos de Chumbo"