O mundo está mudando num piscar de olhos. A Inteligência Artificial (IA) já está presente em quase tudo — no celular, no transporte, no atendimento das empresas e até nas decisões sobre quem será contratado. Mas o que isso significa para quem vive do trabalho?
Especialistas que participaram de uma audiência pública que solicitei na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado alertaram: a IA pode provocar transformações maiores do que todas as revoluções industriais. E não são apenas os empregos simples que correm risco. Funções altamente qualificadas também estão na mira. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), um em cada quatro empregos no mundo pode ser afetado — especialmente os de mulheres e trabalhadores administrativos.
Estudos apontam que entre 400 e 800 milhões de pessoas poderão mudar de profissão até 2030 por causa da automação e da IA — o equivalente a até 40% dos empregos formais do planeta. A nova automação chega com força e custo baixo, acelerando a substituição de pessoas por robôs e sistemas inteligentes.
Há também um perigo silencioso: o uso da tecnologia para vigiar trabalhadores — controlando expressões, voz, ritmo e até batimentos cardíacos. Isso pode gerar discriminação, demissões injustas e sobrecarga mental. É urgente criar regras claras sobre o uso de dados no trabalho.
Outro ponto essencial é a qualificação. Muitos empregos vão mudar, não desaparecer. Quem aprender a usar a tecnologia a seu favor sairá na frente. Por isso, governo e empresas precisam investir em formação e inclusão digital.
Mas não basta se adaptar. É preciso garantir direitos. A tecnologia deve servir às pessoas — e não o contrário. O aumento da produtividade deve trazer mais qualidade de vida, não desemprego. Por isso, defendemos a redução da jornada de trabalho (PEC 148/2015 – minha autoria) e a atualização das leis trabalhistas com o Estatuto do Trabalho (SUG 12/2018 – minha relatoria) — a nova “CLT do Século 21”.
A revolução tecnológica já começou. Cabe a nós decidir se ela será um caminho de exclusão ou de dignidade. A empatia com o outro ser humano jamais será substituída. O futuro está em nossas mãos.
Senador Paulo Paim (PT/RS).