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14.Maio
Que as rosas falem - Grupo Sinos - Diário de Canoas

O 13 de maio deste ano, a exemplo daquele há 121 anos atrás, pode entrar para a História. Senadores e deputados federais terão a oportunidade de serem protagonistas de um momento inesquecível: a igualdade, de fato, entre todos os brasileiros. Quando o Estatuto da Igualdade Racial for aprovado na Câmara dos Deputados, viveremos situação semelhante ao vivenciado pelos abolicionistas de outrora.Não podemos mais ter dados como os que nos mostram que entre 1999 e 2005 morreram, em todo o país, 1.406 pessoas por anemia falciforme. Dessas, 62,3% eram negras. Em todo o Brasil, no ano de 2006, havia 14,4 milhões de pessoas analfabetas na faixa de 15 anos de idade ou mais. Desse total, 9,7 milhões eram negras e 4,6 milhões não negras.No mesmo ano o rendimento médio mensal real do trabalho principal dos homens não negros em todo o país equivalia a R$ 1.164. Esse valor era 56,3% superior à mesma remuneração obtida pelas mulheres não negras (R$ 744,71); 98,5% superior à auferida pelos homens negros (R$ 586,26) e 200% à recebida pelas mulheres negras.Há três anos, 8% da população não negra e 18,8% da população negra estavam abaixo da linha de indigência. Vale ressaltar que, de 1995 a 2006, a proporção da população brasileira abaixo da linha de indigência veio paulatinamente diminuindo. No período, o percentual de indigentes decresceu 9,5 pontos percentuais entre população negra e 3,5 pontos percentuais entre a população branca.Os negros são as maiores vítimas da falta de saneamento. O percentual de negros que moram em cidades e que não contam com rede de saneamento básico é quase o dobro do de não negros na mesma situação (35,9% contra 18,7%.).Esse quadro pode ser alterado. Com a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial estará garantida a inclusão social de milhares de negros, nas áreas da saúde, política, educação, economia, esporte, acesso a justiça, cultura, dentre outros. Ele traz indicativo de quais caminhos devemos trilhar, ao menos temporariamente, para alcançar um país mais justo e igualitário para todos. Nada substitui o querer do trabalho, o esforço deve ser constante, mas as ações afirmativas são a porta de entrada para o mundo que devemos encarar.A responsabilidade do Estado brasileiro é dizer que é possível ocupar os espaços de cidadania e de poder do país, de conquistar a mobilidade social, de ter exemplos positivos em detrimento aos negativos que nos avizinham.Que a aprovação do Estatuto inunde de pétalas de rosas o plenário do Congresso Nacional, tal como aconteceu na ocasião da aprovação da Lei Áurea. Que a chuva de pétalas de hoje tenham o mesmo simbolismo das de ontem e tragam com elas o prenúncio de novos tempos, de um novo país. Senador Paulo Paim (PT/RS)