O fim do voto secreto em todas as instâncias do Congresso Nacional é um tema que cativa e empolga. Porém, a questão só vem a lume, efetivamente, em véspera de eleição das mesas do Senado e da Câmara. A nossa democracia necessita desse ajuste, afinal, o homem público não tem o direito de votar secretamente. A população tem o direito de saber em quem os seus representantes estão votando. Esse tema não é novidade. Há mais de 20 anos venho batendo nessa tecla. Em 2006, apresentei proposta de emenda à Constituição (PEC 50), que já foi aprovada na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e está pronta para ser votada no plenário do Senado. Temos a obrigação de perseguir esse objetivo ou seremos cobrados pelas futuras gerações. O voto secreto estimula a hipocrisia e a mesquinharia. Ele permite disputas desleais entre forças políticas em que as acusações, muitas vezes sem fundamento, são feitas a torto e a direito, como uma metralhadora giratória, pois ninguém sabe e nunca saberá o voto que foi dado. O voto secreto é tão injusto que pode se tornar um instrumento para condenar inocentes ou absolver culpados, tanto no caso de julgados como no de julgadores. É essa trama nebulosa e obscura que temos o dever de combater com as armas do diálogo e da argumentação. Há uma cumplicidade entre eleitos e eleitores que fundamentalmente não pode, de jeito nenhum, contemplar a ocultação de opiniões e decisões. O processo tem de ser transparente. O homem público não deve ter receio da votação aberta na escolha de embaixadores, ministros, perdas de mandato, mesas, agências, etc. É um absurdo, um verdadeiro contra-senso a votação ser aberta para a aprovação de projetos de lei e secreta para manter o veto. O fim do voto secreto no Congresso dá transparência e propicia que todos votem de acordo com suas convicções, fortalecendo assim a relação de eleitos e eleitores, mas, essencialmente, com o poder Legislativo, que deve ser o espaço de ressonância das vozes das ruas. É de extrema importância que surja uma campanha nacional, com ampla participação da sociedade, objetivando o fim do voto secreto. Se o rufar dos tambores não for tocado nas ruas, dificilmente será ouvido no Congresso Nacional. Não podemos mais nos submeter às tais 'forças ocultas'.Senador Paulo Paim (PT/RS)