A Comissão de Direitos Humanos (CDH) discutiu na semana passada a possibilidade de serem retirados do mercado alguns inibidores de apetite.A medida divide a opinião dos especialistas.O diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, lembrou que a sibutramina deixou de ser vendida no mercado norte-americano pela própria Abott, que registrou a patente e fabrica o remédio.A empresa tomou a decisão após realizar o estudo Scout (Sibutramine Cardiovascular Outcomes Trials), a pedido de autoridades europeias.O levantamento durou seis anos e envolveu cerca de 10 mil pessoas.Segundo Barbano, o estudo concluiu que apenas 30% das pessoas tratadas com sibutramina perderam pelo menos 5% do peso após três meses, além de registrar um aumento de 16% no risco cardiovascular.“Se o laboratório que registrou o produto optou pela retirada, seremos menos rigorosos que a própria Abott?”, questionou Dirceu Barbano.No entanto, para a endocrinologista Rosana Bento Radominski, representante da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia,não se pode generalizar as conclusões do estudo da Abott, “realizado com uma população de risco” (pacientes obesos com antecedentes cardiovascularesou diabéticos). Segundo disse, não é razoável extrapolar resultados obtidosem uma população de cardiopatas para pacientes sem doença cardiovascular.Radominski acrescenta que “não há necessidade de proibição, sendo mais recomendável um maior controle sobre o uso dessas medicações, paraque sejam utilizadas corretamente e quando realmente necessárias, já que o seu uso pode ser inevitável quando a mudança de hábitos do paciente, com reeducação alimentar e a prática de atividades físicas, é insuficientepara combater o sobrepeso ou a obesidade.Para Radominski, os endocrinologistas apresentaram dados irrefutáveis de que os medicamentos são eficazes e apresentam baixo risco, quando utilizados de forma correta e sob prescrição ética. “Baseados em dados científicos, revelamos que o documento [da Anvisa] continha erros graves e interpretações tendenciosas de estudos publicados sobre o assunto”, afirmou.O presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Ricardo Meirelles, argumentou que “a retirada do mercado vai deixar sem alternativa terapêutica uma grande quantidade de pacientes obesos e estimularáo mercado negro de medicamentos.O uso indiscriminado deve ser combatido, com maior controle sobre a prescriçãoinadequada”, afirmou Meirelles. Crítico dos inibidores de apetite, o médico sanitarista José Ruben Bonfim, representante do Instituto Brasileiro de Defesado Consumidor e coordenadorexecutivo da Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos, afirmou que o Brasil “não pode ser o último país a bani-los”. Segundo Bonfim, uma das principais razões para a defesa dos anfetamínicos e dasibutramina são os interesses da indústria que os fabrica. Fonte: Agência Senado