Em recente pronunciamento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tocou numa das mais graves feridas da sociedade brasileira, que é qualidade do nosso ensino público. Se houve particularmente na última década uma universalização do ensino de primeiro e segundo graus, ninguém tem dúvida de que esse acesso à escola foi acompanhado por uma queda vertiginosa da qualidade do ensino. Na verdade, a educação pública vem sendo há muito tempo abandonada e a população de baixa renda não tem tido forças para reagir a esse processo de desvalorização da cidadania. O problema não afeta as classes mais abastadas, que encaminham seus filhos para as escolas particulares da mesma forma que migraram da assistência à saúde pública para os planos privados de saúde. Essa saída das classes mais ricas dos sistemas públicos de saúde e de educação, excluída naturalmente a universidade, onde praticamente só os filhos dos mais ricos estão chegando, reduz a pressão sobre os governos e tem facilitado o abandono desses serviços públicos. O resultado é o desmonte da escola e da saúde pública.Além de não oferecer condições de trabalho – com escolas e hospitais sucateados – o poder público tem investido contra os salários dos servidores dessas áreas. Os professores brasileiros aumentaram sua carga de trabalho na mesma proporção em que viram reduzidos os seus vencimentos, como ocorre com os professores da rede de ensino pública do Rio Grande do Sul.Para resgatarmos a qualidade do ensino público, objeto de preocupação de todos os cidadãos responsáveis do nosso País, a começar pelo presidente Lula, é preciso que se comece pela melhoria das condições salariais do magistério. Entendo que em todos os níveis de governo não devemos medir esforços para buscarmos a melhor remuneração possível para os professores. A valorização do professor é o ponto de partida para a recuperação da qualidade do ensino público e a forma mais eficaz de democratizar a sociedade brasileira, o que levará à garantia do exercício pleno da cidadania às populações mais pobres do Brasil. Atender ao que os professores estão a reivindicar é investir no futuro do País. Como qualquer trabalhador que no final do mês se depara com um salário menor que suas contas a pagar, os professores acabam sendo obrigados a se valer da única arma de que dispõem para fazer ouvir as suas reivindicações. Essa arma é a greve, aliás, um direito sagrado e inalienável dos trabalhadores em todo o mundo. Não desejamos, como estou certo de que os próprios professores gaúchos não desejam, que a paralisação das escolas do Rio Grande do Sul prossiga indefinidamente. Afinal, nenhum trabalhador faz a greve pela greve. Ela só ocorre quando todos os canais de comunicação são interrompidos e o fim do diálogo dá margem à radicalização.Paulo Paim (PT-RS)