A morte de Leonel Brizola o remete sem escalas para a eternidade da nossa história republicana, da qual foi, desde Getúlio Vargas, o personagem mais expoente. Quando Getúlio deixou a vida para entrar na história legou a Brizola a continuidade da sua obra. Como Getúlio, Brizola entendeu e interpretou as necessidades e as aspirações do trabalhador brasileiro. Se Getúlio nos legou o salário mínimo, Brizola o defendeu até a morte: só quando o seu corpo era velado, a Câmara reduziu o seu valor. Em 1954, aos quatro anos de idade, enxuguei as lágrimas do meu pai diante da morte e Getúlio. Em 1964, quando se exilou, meu pai retirou da parede de casa um quadro com a foto de Brizola, proibido até no retrato pela ditadura, e antes de escondê-lo embaixo do colchão me disse: “Este é o homem, ele voltará”. Brizola virou figura nacional ao comandar do Palácio Piratini a cadeia da legalidade, permitindo a posse de João Goulart. Quando tinha as rédeas do poder, Brizola dedicou-se principalmente à educação. No Rio Grande do Sul foram 6.300 escolas e nas duas vezes que governou o Rio de Janeiro criou os CIEPS, implantando turno integral com refeição e assistência médica para os alunos pobres da escola pública. Era o reconhecimento do valor da educação pelo menino pobre que enfrentou toda forma de dificuldade para estudar. Para infelicidade nossa não chegou à Presidência da República. Tentou por duas vezes, mas a exemplo de Rui Barbosa não conseguiu, pois preferiu ficar com suas convicções e suas coerências. Estive com Brizola na caminhada das Diretas. Ele volta à minha vida nesses últimos dois anos. Conversamos muito, sobre a reforma da Previdência e sobre o salário mínimo. Brizola esteve em meu gabinete registrando toda sua solidariedade. Lembro de uma frase sua: “Temos que conversar muito. Este país tem tudo para dar certo”. Na Nicarágua ouvi de Tomaz Borges, um dos últimos comandantes da Revolução Sandinista, que quando estava no cárcere do ditador Somoza um dos seus gorilas entrou anunciando o fim da revolução, porque o seu principal líder, Carlos Fonseca, havia morrido, ao que Borges respondeu: “Te enganas, Carlos Fonseca não morreu. Estará sempre vivo, com seus ideais, junto a todos nós”. Repito as palavras de Borges. Como Carlos Fonseca, Leonel Brizola não morreu porque também suas idéias e sua coerência estarão sempre junto a nós, na nossa alma, no nosso coração e na nossa mente. Senador Paulo Paim (PT-RS)