O dicionário de filosofia é claro quando define coerência como "ordem, conexão, harmonia de um sistema de conhecimento, critério da verdade, ausência de contradição." Para o homem público a coerência é o parâmetro e a verdade da sua própria consciência. É a disciplina entre o falar e o fazer. É a harmonia entre o discurso e a prática, sem contradição. De acordo com o que vivemos e pensamos, coerência é o padrão de pensamento que move nossa forma de agir. Não pode haver contradição entre as promessas de discurso e a prática. Da nossa parte, vale dizer que procuramos defender idéias, pontos de vista, levantar bandeiras e tentar concretizá-las, procuramos não fazer promessas absurdas, que temos certeza de não poder cumprir. Os últimos acontecimentos relacionados ao Governo eleito refletem uma realidade. Cobranças estão acontecendo antes de o governo tomar posse. Trata-se de uma incoerência, pois não se admite cobranças daqueles que não conseguiram, em oito anos, concretizar as promessas feitas. É Incoerência de tempo e de espaço. O momento é de ajustes, de transição. O novo Governo deverá ser avaliado a partir do próximo ano, tempo suficiente para que se estabeleça os critérios da sua nova forma de governar. Sabemos que os efeitos da nova prática não serão imediatos, mas a paciência também faz parte da coerência. Torna-se impossível, no primeiro mês, responder à tudo o que foi colocado no seu programa de Governo. Temos quatro anos para dar início a um processo de restauração do Estado. Entre importantes fatores, temos como meta a Reforma Agrária, o fortalecimento do Mercosul, o combate às discriminações, o salário mínimo justo, a diminuição da taxa de juros, a geração de empregos, o investimento na produção, etc. Incoerência é a cobrança imediata em oito dias de quem não fez em oito anos. Parece que neste importante embate político sobre o salário mínimo, muitos, na ânsia de participar e "arriscar" opiniões, usam e abusam de julgamentos precipitados e eloqüentes. É desnecessário dizer que na democracia a expressão é livre, mas não custa nada ponderar algumas observações. Da nossa parte, estamos mantendo a coerência. Alguns têm dito que mudamos de opinião em relação ao valor do salário mínimo, chegam a ironizar, declarando que existem diferenças entre o "velho" Paim e o "novo". Quando defendíamos os cem dólares, a cotação estava em cerca de R$ 2,50. Continuamos defendendo na íntegra o nosso projeto, que contempla também os interesses dos aposentados e pensionistas. As afirmações e ironias que temos ouvido são meras provocações, pois os atuais governistas não querem assumir que o valor do mínimo de R$211,00 foi proposto pelo seu Governo. A oportunidade que tinham de dar vida digna ao nosso povo foi desperdiçada em oito anos de salários baixos. Agora é a nossa oportunidade de levar adiante os projetos de justiça social que sempre defendemos e queremos ter a oportunidade de, primeiro assumir o Governo, para agir de acordo com a nossa consciência e com o que sempre lutamos. Só para lembrar, no Rio Grande do Sul, onde somos governo, o salário mínimo já é maior que R$250,00. Lá, o mínimo regional está entre R$263,00 e R$286,00. É o estado que tem a menor taxa de desemprego e o maior PIB industrial do país. Isto demonstra que o salário mínimo não causa desemprego e nem prejudica o empregador. Defendemos um mínimo maior porque este é um dos melhores métodos para combater a fome e a miséria. Em toda nossa vida lutamos por emprego, salário e renda. Não é incoerência desejar que a nossa população tenha vida digna; que exerça a cidadania que lhe é de direito. Não é incoerência lutar para que isto aconteça e para manter os critérios da verdade dos números, da transparência dos dados e da comprovação de receitas. Não é incoerência dar o devido tempo para que a ordem das coisas se estabeleça. O Pacto Social proposto por Luiz Inácio Lula da Silva já é uma realidade. Empresários, sindicalistas, representantes de organizações não-governamentais e de movimentos sociais, sentam-se à mesma mesa para propor soluções. Precisamos de união. Está na hora de acordarmos para uma nova sociedade. Chega de apontar " culpados demagogos". Está na hora de "todos " somarmos forças por aqueles que já não tem voz para falar, pois estão morrendo. Paulo Paim PT/RS