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03.Maio
Uma empresa recuperável, porque não? - Gazeta Mercantil

A intenção não é o repasse de recursos públicos, mas sim o encontro de contas Uma luz no fim do túnel  . É assim que definimos a   atuação dos parlamentares frente a  gravíssima   crise por que passa a Viação Aérea Riograndense, a Varig. Uma crise que não surgiu subitamente. Mas que vem se agravando ano após ano, governo após governo. E é importante termos clareza quanto a o longo período de tempo em que a mais antiga empresa aérea brasileira se vê mergulhada em problemas sérios. A situação da empresa levou à formação, dentro do Congresso Nacional, de uma comissão que irá para acompanhar as negociações para sua recuperação. Como participante desse grupo entregaremos, na próxima semana, um documento, assinado por quase todos senadores – estando entre eles os três senadores gaúchos, presidentes de seis comissões e os líderes Jefferson Peres e Ney Suassuna-, ao presidente Lula e à ministra Dilma Rousseff. É a forma de reafirmarmos nossa preocupação com a empresa. Mais, faremos o pedido das partes envolvidas, elas querem ser recebidas pelo presidente. Temos certeza de que o presidente e sua equipe estão empenhados na busca de uma solução. Ao olharmos para a situação da Varig, a primeira conclusão a que podemos chegar é de que não foram poucos os que falharam em todo o processo. Não foram poucos os próprios agentes estatais que, por alguma razão, deixaram de agir no tempo certo. Quando falamos em “deixar de agir”, não estamos nos referindo especificamente a auxílio não prestado à empresa. Ao contrário. Pensamos nas medidas corretivas que não foram tomadas; na correta e necessária fiscalização que não existiu. Por exemplo, há anos a Varig mostrava dificuldade em pagar pelo combustível que utiliza em suas aeronaves e que é fornecido pela estatal BR Distribuidora. Também é antigo o risco de arresto de bens, inclusive de aviões em aeroportos no exterior, por incapacidade de saldar dívidas contraídas. Onde estavam a Comissão de Valores Mobiliários e os demais órgãos de fiscalização financeira do Estado que não acompanharam o crescente endividamento da empresa? Ora, um país como o nosso, que no passado recente instituiu programa oficial de socorro a bancos, não tem argumento algum que possa justificar sua omissão ante um problema como o da Varig. Empresa que, diga-se de passagem, antes de ser privada, é uma concessionária pública. Citamos essas questões porque não podemos ficar imóveis frente a um problema de extrema gravidade, com sérias repercussões econômicas e com terrível impacto social. É inaceitável vermos que alguns setores querem culpar exclusivamente as sucessivas direções da empresa pela possível paralisação ou o fim definitivo das atividades da companhia. As direções tiveram sua parte de culpa, é evidente, mas existem outros componentes, outros culpados. Devemos nos lembrar que, se a dívida que 15 estados tem com a empresa for quitada, cerca de R$ 1 bilhão entrará no caixa da Varig. No próximo dia 11 ouviremos aqui no Senado os quatro estados que mais devem à Varig, assim como o Distrito Federal. Não defendemos o repasse de recursos públicos para instituições privadas, mas sim o encontro de contas. O que se espera do Estado brasileiro é sensibilidade política para compreender o drama da Varig. E que, compreendendo-o, aja de imediato. A viabilidade da empresa que irá completar 79 anos em maio é ponto pacífico para a maioria das pessoas que acompanham a trajetória da Varig. Uma empresa que se consolidou no mercado interno e externo, que é espelho do país, a grande “embaixada” brasileira no exterior, não é e não pode ser tratada com descaso. A Varig traz consigo uma enorme carga simbólica. Permitir a falência da empresa, além de implicações econômicas, será um golpe ao amor-próprio brasileiro. A empresa passou por algumas crises financeiras, porém, nada igual a atual. Em fevereiro deste ano, os credores, com base na nova Lei de Falências, aprovaram o plano de reestruturação da companhia. Trata-se de um novo modelo de gestão com o objetivo de trazer novos investidores para a companhia. A intenção e levantar mais uma vez a empresa. Além disso, a Varig busca conseguir carência de dois a três meses para efetuar o pagamento de dívidas com a BR Distribuidora (fornecedora de combustíveis) e com a Infraero (estatal que administra os aeroportos). O presidente da companhia também pretende negociar o empréstimo de R$ 400 milhões com o BNDES. Defendemos que empresas e instituições estatais credoras se unam a fim de encontrar um meio de solucionar o problema. E aqui devemos lembrar da legião de trabalhadores que estão incertos quanto a seus empregos, daqueles que se aposentaram e que estão sem saber como ficarão seus benefícios, dos clientes da empresa. Alguns argumentam que, se a Varig cessar suas atividades, suas linhas serão repassadas para outras empresas brasileiras. Mas ninguém pode garantir isso porque as permissões para pousos e decolagens regulares em aeroportos internacionais, ainda que assinada por estados, é dada a uma determinada empresa. A Varig é uma gigante do setor da aviação, com 11 mil funcionários, rotas que cortam o Brasil de norte a sul e levam brasileiros para diversos países do mundo. É uma corrida contra o tempo para evitar a paralisação geral da empresa, evitando uma avalanche de desempregados. Os prejuízos podem chegar a R$ 10 bilhões. Por isso, insistimos: governo, credores, funcionários e a direção da empresa devem encontrar um caminho que viabilize a continuidade das operações da companhia. Paulo Paim - Senador PT/RS