Harmonia e respeito. A história nos ensina que esses são os pilares do bom relacionamento entre os poderes constituídos. A nova composição das Mesas da Câmara e do Senado nos faz pensar: por que razão os processos eleitorais para as presidências dessas Casas não transcorreram de igual forma? No Senado, houve uma postura que vinha sendo construída há mais de um ano. Já o resultado da eleição na Câmara surpreendeu a muitos, mas ele é fruto das políticas adotadas. Ele revela o descontentamento e o desconforto da base aliada em relação ao Executivo. O governo entrou em "terreno movediço", pois é assim o local em que não se sabe quem são os verdadeiros aliados. A decisão pelo voto secreto demonstra que os deputados temem o governo, quando deveriam respeitá-lo. Não há dúvidas, os candidatos da oposição, para 2006, articularam-se de forma competente e, assim, o componente eleitoral entrou em jogo. A batalha entre os candidatos do PT fez parecer que a base estava dividida, o que fragilizou o governo. Como resultado, nosso partido não possui nenhum cargo na Mesa, nem mesmo nas suplências. É a primeira vez na história do Brasil que o partido majoritário, por um equívoco, não faz parte da Mesa Diretora da Câmara. Não podemos esquecer que o PP, o PSDB, o PFL, o PMDB e outros partidos da base do governo FH estarão no comando do Congresso Nacional nos anos que antecedem o próximo pleito eleitoral. Temos aí o segundo sinal amarelo. O primeiro já nos foi dado nas últimas eleições. Precisamos ter humildade ao fazer essa leitura. E mais, ninguém pode se considerar eleito em 2006. O Executivo errou ao interferir de forma ostensiva nas eleições da Câmara, pois um poder não deve interferir no outro, mas sim auxiliá-lo. Deve haver mais diálogo entre o Executivo e os parlamentares. A história nos mostra que ninguém governa sem o parlamento. Houve desgaste em razão das discussões em torno da reeleição das Mesas. A edição exagerada de medidas provisórias desvirtuou o papel dos poderes e "atropelou" os parlamentares ao não reconhecer suas iniciativas. Também foi equivocado classificar de baixo clero quem, no Congresso, pensa de modo diferente. Isso é não levar em conta a trajetória de nosso partido. Centralizar decisões políticas nas mãos de representantes de um único Estado também é um erro. Enfim, como estou lendo sobre a vida de Gandhi... "mais vale um gesto que mil palavras". Paulo Paim (PT-RS)