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25.Maio
13 de maio: dia para a reflexão

 Nos idos de 13 de maio de 1888 o Brasil comemorava o fim da escravidão. O dia em que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea foi marcado por manifestações de alegria e passou a ser lembrada, ano após ano. Apesar da euforia inicial, os dias que se seguiram não foram assim. Muito se conquistou, mas muito ainda falta ser conquistado. É por essa razão que neste 13 de maio fazemos um apelo: resgatar o espírito de conquista dos negros e dos abolicionistas de 117 anos atrás. Devemos nos lembrar também do dia 20 de novembro. Em 2005, essa data - que marca os 310 anos da morte do grande líder negro Zumbi dos Palmares-, será comemorada com a Marcha sobre Brasília “Zumbi + 10”. Foi esse ex-escravo quem proporcionou a nós, negros, sonhar com a liberdade de fato. Esta marcha é inspirada na Marcha sobre Washigton, liderada por Marther Luther King, e que resultou na conquista dos Direitos Civis dos negros norte-americanos. Mais, nos EUA- país que possui 11% de negros- a data que marca a morte de King é feriado nacional. No Brasil, em que somos 48%, a mesma homenagem a Zumbi é motivo de polêmica. A comunidade negra aos poucos ocupa seus espaços, conquista seus direitos. Apesar disso, infelizmente, ainda estamos encabeçando os piores indicadores. Dados do Dieese demonstram que os negros ainda são a maioria dos desempregados, ainda possuem os menores salários. Por exemplo, Belo Horizonte e Porto Alegre são cidades em que houve crescimento da participação dos negros no mercado de trabalho, respectivamente de 58,5% para 61,5% e de 56% para 58,3%. Mas a distância entre os negros e os não-negros (especialmente para as mulheres) é ainda muito grande. Nos bancos escolares, isso também acontece. De acordo com os resultados de pesquisas realizadas pela Unesco, 17% dos jovens entre 15 e 17 anos estão fora das escolas. Item que os coloca, futuramente, fora do mercado de trabalho. A fim de promovermos o fim dessas desigualdades é que apresentamos o projeto do Estatuto da Igualdade Racial. A proposta – já aprovada nas Comissões de Economia e de Educação do Senado- prevê uma série de políticas públicas de combate ao preconceito e ao racismo. Consideramos o Estatuto como sendo a verdadeira carta de alforria da nação negra . Por isso, no ano em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou como “Ano da Igualdade Racial”, não há sentido deixarmos de aprovar a proposta. Ainda mais quando notamos que o racismo, assim como o nazismo e o fascismo, cresce em todo o mundo. Nosso país não fica fora disso. Freqüentemente vemos casos em que pessoas negras foram submetidas a situações constrangedoras por causa da cor de sua pele. Mesmo no esporte - local para a integração - temos situações assim. Nosso caso mais recente é do jogador do São Paulo, Grafite, que foi agredido por um atleta de um time argentino. O racismo nesse meio vem crescendo tanto que o problema já é tema de campanha internacional. Item que nos mostra a necessidade de adotarmos políticas públicas que integrem as pessoas, mas que também as ensinem a amar umas às outras. Nos perguntamos: o que leva alguém a julgar os outros pela cor da pele? Não conseguimos encontrar a resposta para atos assim, mas sonhamos com uma sociedade em que questionamentos como esse não precisem ser feitos. Nesse contexto, a auto-estima é item importante. É preciso que o povo brasileiro conheça nossa história. Temos orgulho de nossas origens. E a mídia pode contribuir para isso. São jornalistas, modelos, atores, apresentadores, enfim, um grande leque de profissionais, valorizados dia-a-dia. Por meio deles, nossas crianças passam a gostar mais de si mesmas, a perceber seu valor. Mais que isso, essa valorização não tem implicações apenas junto aos afro-brasileiros, mas sim na sociedade como um todo. E isso nos leva ao campo das políticas públicas. Espaço para as mudanças sociais e culturais. A elaboração e discussão de políticas assim têm um propósito: minimizar os problemas e, futuramente, extingui-los. É disso que precisamos. Mudanças nas formas de pensar e de agir. Item que passa pela maneira como nós nos vemos, nos posicionamos frente às situações, como buscamos e lutamos por nossa plena cidadania e pela igualdade entre as raças. Infelizmente a realidade ainda não é essa, mas, felizmente, esse objetivo pode e está sendo atingido. Sabemos que avançamos, mas temos certeza absoluta de que precisamos avançar muito mais. Esperamos que em breve possamos, de fato, viver em um país melhor, mais igualitário, solidário e justo. Paulo Paim é Senador da República pelo PT do Rio Grande do Sul, preside as Subcomissões da Igualdade Racial e Inclusão (CDH) e do Trabalho e Previdência (CAS) e é autor do Estatuto da Igualdade Racial.