Saúde Edição de quinta-feira 27 de outubro de 2011 A anemia falciforme é uma doença hereditária do sangue que afeta pessoas de ascendência africana.— Atinge, basicamente, a população negra. Precisamos dizer sem medo: trata-se de uma doença de pobres. É por isso que não recebe a devida atenção dos governantes — afirma Paulo Cesar Naoum, biomédico da Universidade Estadual Paulista (Unesp) que estuda a doença desde os anos 1960.No Brasil, nasce um bebê com anemia falciforme a cada mil nascidos vivos. Em locais onde a presença da população negra é maciça, a proporção muda. É o caso da Bahia, onde há um bebê doente a cada 650 nascidos.Fósseis encontrados na África — onde a doença surgiu — indicam que a anemia falciforme existe há pelo menos 50 mil anos. No entanto, foi descrita pela literatura médica apenas em 1910. Para especialistas, teria sido identificada muito tempo antes se afetasse e matasse a população branca.Apesar de ser típica da população negra, tem-se tornado frequente em pessoas de pele branca. O que explica o "clareamento" da doença é a miscigenação da população. Muitos brasileiros, embora não sejam negros, têm genes africanos.A anemia falciforme é provocada por uma mutação nas hemácias (células vermelhas do sangue, que transportam oxigênio). Em vez do aspecto normal de moeda, elas ganham a forma de meia-lua ou foice (daí o nome falciforme). A ciência ainda não é capaz de explicar por que as hemácias dos africanos do passado sofreram essa mutação. Crê-se que tenha sido uma maneira de protegê-los da malária.Por causa de formato de foice, as hemácias acabam se prendendo às paredes internas de veias e artérias. O acúmulo entope os vasos sanguíneos. Dessa forma, o oxigênio do sangue não chega a determinadas partes do organismo. Sem oxigênio, as células morrem. Isso provoca dores e com o passar do tempo leva à falência de órgãos vitais, como o coração. É esse entupimento dos vasos sanguíneos que provoca o AVC.Na teoria, a anemia falciforme não tem cura. O doente passa a vida cuidando dos sintomas. No entanto, nos casos mais graves, em que há risco de vida, pode-se realizar o transplante de medula óssea. O doente fica curado. O transplante, porém, é raro, porque são elevadas as chances de provocar a morte do paciente. O Ministério da Saúde estuda incluir no SUS o transplante de medula óssea para doentes em estado gravíssimo. Fonte: Jornal do Senado