Ao final da conversa que mantive com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a bordo do avião presidencial que o trouxe ao Rio Grande do Sul no dia 6 de dezembro, para a solenidade que marcou o início das obras de duplicação do trecho da BR-101 Sul entre Palhoça (SC) a Osório (RS), fiquei com a nítida impressão da vontade sincera do presidente de recuperar o poder de compra do salário-mínimo. As origens do presidente não permitem outro tipo de interpretação quando ele dedica parte do seu tempo ao exame da questão, como aconteceu durante o vôo. Discutimos a atual fase da economia nacional e a rara oportunidade de se dividir com o trabalhador parte do crescimento enquanto ele ocorre. O presidente também entendia que no momento em que o PIB aponta para um crescimento de mais de 5% este ano, não fazia sentido deixar a classe trabalhadora à margem desse crescimento. Ou como simples expectadora do enriquecimento do país até o dia 1 de maio de 2005, data-base para o reajuste do mínimo. Com essa longa espera, o governo e o Congresso certamente passariam por um longo desgaste em função dos debates, seguramente estéreis, como estamos acostumados a presenciar quando se trata de elevar a renda do trabalhador. A antecipação do reajuste neste momento de recuperação da economia também serviria para calar aqueles que, a cada vez que se fala de aumento do salário-mínimo, respondem com o fantasma do aumento do déficit da Previdência. Com a reação da economia este ano quase dois milhões de novos empregos foram criados na formalidade, ou seja, com carteira assinada e recolhendo todos os impostos, particularmente as contribuições previdenciárias pagas por patrões e empregados. Da massa salarial desses dois milhões de novos empregos, como sabemos uma terça parte vai para os cofres da Previdência Social. Portanto, este é mais um argumento contra os efeitos do aumento do salário-mínimo sobre as contas previdenciárias. O interessante é que aquelas vozes que falam do aumento do déficit não fazem nenhuma referência ao aumento da arrecadação. Ao contrário, pregam a desvinculação dos benefícios previdenciários do salário-mínimo, como se aposentados e pensionistas estivessem imunes à corrosão de seus rendimentos. O projeto de n 200 que apresentei em 2004 para vigorar em 2005 garante um salário-mínimo de R$ 300 mais o dobro do crescimento do PIB, estendendo o mesmo percentual de reajuste aos aposentados e pensionistas. Paulo Paim PT/RS