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22.Maio
Falta explicar os juros altos - Jornal do Comércio

Ao manter em 26,5% a taxa básica de juros da economia em sua última reunião, o Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central não surpreendeu o chamado mercado, que se alimenta desses juros exorbitantes, mas certamente causou profunda frustração naqueles setores da economia desejosos de verem a retomada do desenvolvimento, com suas conseqüências diretas para a sociedade, qual seja o aumento da produção e das oportunidades de emprego. Com a decisão do comitê, o Brasil se manteve na terceira posição entre os países com as maiores taxas de juros nominais do mundo, atrás apenas da Turquia (42%) e da Venezuela (30%) ao ano. Segundo o próprio Banco Central, os investimentos diretos estrangeiros foram de US$ 284 milhões em março último. Esse volume de investimentos que ingressou no País foi o pior já registrado pelo BC desde março de 1995. Isso sugere que as elevadas taxas de juros embutem um risco igualmente elevado, já não representam atrativo até mesmo para o capital estrangeiro. Nas duas primeiras reuniões já sob o governo Lula, o Copom puxou para cima a taxa básica de juros. De 25%, que recebera do governo FHC, aumentou para 25,5%. O argumento era de que a inflação se tornara novamente uma ameaça e as taxas de juros eram o melhor remédio para combatê-la. No mês seguinte, o Copom voltou a elevar a taxa aos atuais 26,5%. Desta feita, o argumento era a defesa da economia brasileira contra as possíveis conseqüências da guerra no Iraque. A mudança agora é que a manutenção da taxa foi feita sem viés, o que vale dizer que só poderá ser alterada, para cima ou para baixo, na próxima reunião do Copom, no final de junho. O governo Fernando Henrique mantinha as taxas de juros altas para segurar a alta do dólar. Com a cotação da moeda americana abaixo dos três reais, como aconteceu esta semana, esse argumento não existe mais. O argumento de segurar a inflação também não se sustenta, pois ela já deu sinais de queda. E a guerra no Iraque já acabou, com o petróleo em baixa, a tal ponto que a Petrobrás está anunciando uma redução em até 10% dos preços dos combustíveis no mercado interno. Não vemos motivos para a manutenção de uma taxa de juros tão elevada. Nesse patamar, está paralisando a economia brasileira. A produção está estagnada, o desemprego bate recordes históricos. É preciso que o Copom reveja, imediatamente, sua política de juros. A economia brasileira não vai sobreviver tendo que pagar essas taxas, pois elas não remuneram nenhum investimento. O governo afirma que a reforma economizará R$ 52 bilhões até 2033. Só no primeiro trimestre deste ano, os juros das dívidas interna e externa chegaram a R$ 50 bilhões. Em três meses pagamos aos credores o equivalente ao total economizado em 30 anos com os cortes de direitos da PrevidênciaPaulo Paim PT/RS