Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a questão racial no Brasil , divulgados recentemente, chocaram o país . Para nós esses dados não são surpresa. Denunciamos há algumas décadas a exclusão do negro no país. Os negros no Brasil ainda recebem salários inferiores aos dos brancos e têm bem menos oportunidades do que eles. De acordo com pesquisa do IBGE, em média, um trabalhador branco recebia em setembro deste ano cerca de 1.292 reais. Isto significa, 95,7% a mais que os 660 reais ganhos por pretos e pardos. O IBGE aponta ainda o abismo na escolaridade entre os dois grupos evidenciado pelo fato de que só 8,2% dos pretos e pardos com mais de 18 anos freqüentaram a Universidade. Entre os brancos este percentual é de 25,5%. Comparando 2002 com 2006, a Pesquisa Mensal de Emprego mostra que ambos os grupos melhoraram mas a diferença permaneceu praticamente inalterada. No campo profissional a situação também é reveladora, sendo as mulheres negras duplamente atingidas pela discriminação. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) o rendimento da mulher negra hoje é de 302 reais enquanto profissionais brancas ganham 403 reais. O branco recebe 605 reais e o negro, 383 reais. Aproveitamos o dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, para conclamar a comunidade a redobrar esforços a fim de eliminar todas as formas de discriminação racial Lutamos pela aprovação do Estatuto da Igualdade Racial (EIR). Acreditamos que ele é uma forma de integração para que um dia negros e brancos possam estar convivendo em condições de igualdade no ensino fundamental, nas universidades, nos locais de trabalho, nas ruas, nos campos, nos parques, enfim, caminhando juntos em plena igualdade. A aprovação dessa proposta irá representar a verdadeira carta de alforria do povo negro. Devemos isso a todos aqueles que no transcorrer da história plantaram com suas atitudes, a semente da liberdade. O sistema de cotas nas universidades, está consagrado no PL 73/99 da deputada Nice Lobão, (PFL-MA). A proposta deve assegurar o preenchimento, por afro-brasileiros, de quotas mínimas das vagas nos cursos de graduação em todas as instituições públicas federais de educação superior do território nacional e nos contratos do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES). A aplicação do sistema de cotas já é adotada em 47 universidades brasileiras. Outros exemplos positivos, são os bancos e o serviço público que já começaram a adotar o sistema de cotas. Nas últimas décadas tivemos pequenos avanços. Mas precisamos avançar muito, muito mais mesmo. A luta no Brasil nos faz lembrar a batalha travada entre abolicionistas, que queriam a liberdade dos negros, e os escravocratas, que lutavam para perpetuar o regime de escravidão. O Brasil, lamentavelmente, foi um dos últimos países do mundo a abolir a escravatura. Aqueles que lutaram pela liberdade, são lembrados hoje, pela nossa história em verso e prosa, já os contrários, tiveram seus nomes apagados por suas trajetórias que envergonham todo o povo brasileiro. Gostaria de lembrar mais uma vez que o EIR está para os negros no Brasil da mesma forma que nos Estados Unidos da América (EUA), depois da famosa "Marcha sobre Washington", foram aprovados os direitos civis para os negros, pela Suprema Corte e em seguida pelo Congresso. Martin Luther King morreu nesta caminhada, mas a Lei permanece até hoje. Nós, brasileiros, negros, brancos, índios, crianças, idosos, homens e mulheres habitantes deste país queremos um Brasil para todos. O Estatuto é um dos instrumentos para atingirmos este objetivo. O homem que ainda não descobriu uma causa pela qual ele possa morrer, é porque ainda não entendeu o sentido da vida. Acredito que estou no caminho , pois descobri a causa da inclusão, da igualdade, da liberdade, da justiça e da defesa do meio ambiente. Esta é a razão da minha vida e por ela eu poderia morrer. Senador Paulo Paim (PT-RS)