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18.Maio
Delegado da ditadura diz ter sido ameaçado

Delegado da ditadura diz ter sido ameaçado e falta a audiência Ex-policial falaria sobre sua participação na morte de militantes da esquerda nos anos 1970, mas recuou ao se sentir ameaçado de morte   Uma suposta ameaça de morte adiou a audiência pública que a Comissão de Direitos Humanos (CDH) faria ontem. A vítima, Claudio Guerra, é ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e personagem central do livro Memórias de uma Guerra Suja. No Senado, ele falaria sobre sua participação na morte de militantes da esquerda na época da ditadura militar, nos anos 1970. — Considero da maior gravidade a tentativa de assassinato, porque ele é um arquivo vivo dos crimes que ele mesmo cometeu. Li no livro que a responsabilidade dele, na ditadura, era matar, inclusive, enquanto outros torturavam — disse Paulo Paim (PT-RS), presidente da CDH. O senador informou que o ex-delegado do Dops também se dispôs a falar à Comissão da Verdade. O colegiado foi nomeado na véspera pela presidente Dilma Rousseff — em cerimônia que contou com a participação de todos os ex-presidentes da República desde a redemocratização do país —, para investigar as violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988, com ênfase no período da ditadura militar. Paim explicou que o ex-delegado alegou a necessidade de garantias de segurança para seu deslocamento a Brasília. O senador foi informado de que, na madrugada da quarta-feira, dia 16, três homens rondaram a casa do delegado, na cidade de Vila Velha (ES). Claudio Guerra afirmou ter ouvido um dos homens gritar “eu vou pocar”. Na gíria policial da época da ditadura, a frase era a senha para o disparo de arma com o objetivo de matar quem estivesse no alvo. O senador registrou que ainda na quarta-feira narrou o fato ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e pediu segurança para o ex-delegado. Segundo Paim, o ministro informou que Guerra se negou a entrar no programa federal de proteção a testemunhas. Matança Paim citou fatos envolvendo o delegado, que narrou aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros como matou e ocultou os corpos de militantes de esquerda. — É o depoimento de quem foi o principal agente de um grupo que, fora da cadeia de comando, foi responsável pela matança de integrantes da esquerda. Seu nome não está entre os torturadores da ditadura porque sua missão não era torturar, era matar — disse o senador. No livro, Guerra também fala sobre sua participação na Chacina da Lapa, em São Paulo, operação do Exército que resultou na morte de três dirigentes do PCdoB, e sobre o atentado ao Riocentro, frustrado porque a bomba explodiu no colo de um militar. Sem o ex-delegado, a CDH destinou a reunião de ontem ao exame de projetos (páginas 4 e 5). Os autores do livro também vão depor na audiência pública. Jornal do Senado (Reprodução autorizada mediante citação do Jornal do Senado)