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25.Junho
Novos ares, novos rumos (Final) - Sul 21

François Hollande tornou-se o mais poderoso dirigente socialista da França de todos os tempos, ao obter, no domingo (17), maioria parlamentar absoluta no segundo turno das eleições legislativas, o que lhe dará condições para implantar seu programa de governo. Ele pretende reorganizar a França com justiça, abrir um novo caminho na Europa e contribuir para a paz mundial e a preservação do planeta. Ele tem afirmado que “a justiça será o único critério para a tomada de decisões públicas. Não pode haver cada vez mais sacrifícios para uns e mais privilégios para outros.” Hollande chega ao poder com prioridades bem definidas e um cronograma previamente apresentado listando a sequência em que as providências serão adotadas. As primeiras medidas que constam nesse cronograma são a elevação do poder aquisitivo das famílias e reformas imediatas para sanear as contas públicas e o setor industrial. No contexto do esforço para elevar o poder aquisitivo das famílias, o preço dos combustíveis foi congelado por um período de três meses, dando cumprimento a mais uma promessa de campanha. A medida é importante, sobretudo, para as zonas não urbanas, onde não há disponibilidade de transporte público. Para mais adiante, está prevista a revisão das instituições francesas, o que inclui o direito de voto nas eleições locais aos estrangeiros residentes na França há pelo menos cinco anos. Atualmente, apenas os estrangeiros de países da União Europeia têm direito a voto nas eleições municipais francesas. A proposta de Hollande, incluída em seu programa de governo, amplia esse direito aos estrangeiros que não procedem da União Europeia. É importante registrar que, nas eleições do dia 17, o franco-brasileiro Eduardo Cypel, de 36 anos, nascido em Porto Alegre, foi eleito pelo Partido Socialista para a Assembleia Nacional. É talvez nas áreas da previdência social e da defesa do emprego que os trabalhadores franceses sentirão mais imediatamente a diferença de postura do novo Governo. No dia 6 de junho ele anunciou que os franceses poderão se aposentar aos 60 anos e não mais aos 62. A medida vai beneficiar cerca de 110 mil trabalhadores até o final de 2013. De acordo com dados do governo, os franceses favorecidos pela mudança são aqueles que começaram a trabalhar antes dos 19 anos e sempre contribuíram com a Previdência Social. A reforma anunciada autoriza, ainda, que as mulheres tenham uma licença-maternidade de seis meses, e concede o direito de que os desempregados recebam benefícios por dois trimestres. Essas medidas passam a valer a partir de novembro. O Primeiro-Ministro, Jean-Marc, anunciou uma grande conferência social, antes de 14 de julho, reunindo integrantes do Governo com sindicatos e patrões, para discutir as reformas que deverão ser realizadas nas áreas de emprego, profissionalização, salários e condições de trabalho. No que se refere à garantia do emprego, o Governo socialista promete adotar uma postura firme em face da onda de demissões em massa que se teme possa atingir a economia francesa nos próximos meses. Segundo dados fornecidos por sindicatos, os setores bancário, automobilístico, de telecomunicações e de transportes, entre outros, preparam planos de demissão que podem afetar mais de 50 mil trabalhadores. Determinado a limitar a perda de empregos, o presidente anunciou uma série de medidas para dificultar as demissões.  Entre elas estão o aumento dos custos das indenizações aos trabalhadores para as empresas que distribuem dividendos aos seus acionistas, e o estímulo à venda das fábricas em dificuldades a algum investidor interessado, ao invés de permitir o seu simples fechamento. A vitória de François Hollande representa uma mudança importante no debate político naquele país e na Europa. Com a chegada dos socialistas ao poder, ganha força o entendimento de que a superação da crise da dívida europeia tem de passar pela dinamização da economia dos países da região, e que o ônus da crise não pode ser colocado exclusivamente sobre as costas dos trabalhadores. Não será pela via da redução dos direitos previdenciários e da supressão dos postos de trabalho que as economias dos países europeus conseguirão se reerguer.  Muito pelo contrário, o empobrecimento das populações, o encolhimento dos mercados internos dos países somente levarão ao agravamento da crise. A adoção de um enfoque mais avançado, atento aos interesses da população trabalhadora, na abordagem da crise econômica abre novas perspectivas para sua superação. Por isso, todos aqueles que defendem a melhoria das condições de vida da população, seja na Europa, seja em qualquer parte do mundo, devem saudar a vitória socialista na eleição francesa. Ninguém ignora que, nos tempos em que vivemos, as dificuldades que afligem um país acabam, fatalmente, por repercutir nos demais.  Os trabalhadores brasileiros têm, nessa medida, o maior interesse em que o Velho Continente encontre o caminho para retomar o crescimento. Creio que François Hollande tem todas as condições de implantar suas metas de crescimento com igualdade e justiça social no seu país… Neste momento, os olhos do mundo estão voltados para a França.