diência na Comissão de Direitos Humanos revela que crianças e adolescentes são a maioria das vítimas de acidentes domésticos com álcool ou líquidos quentes Uma campanha nacional de prevenção a queimaduras dentro da rede de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) será elaborada por grupo criado pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) com esse fim. A criação do grupo ocorreu após audiência — a última das 85 realizadas no ano na CDH — que discutiu a ocorrência de acidentes que resultam em queimaduras. Cerca de 1 milhão de pessoas sofrem esse tipo de acidente por ano no Brasil. No debate, o representante do Ministério da Saúde, José Eduardo Fogolin Passos, prometeu realizar uma reunião em fevereiro de 2013, com os outros participantes, para elaborar a campanha. De acordo com os especialistas, a maioria dos acidentes de queimaduras está relacionada a chamas por uso de álcool etílico. A diretora do Hospital Nelson Piccolo, referência no atendimento a queimados em Brasília, Thereza Piccolo, disse que acidentes com álcool atingem principalmente a faixa etária de 5 a 14 anos. O secretário-geral da Confederação Mundial das Sociedades de Cirurgia Plástica, Nelson Piccolo, lamentou que uma norma da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) que proibia a venda de álcool etílico líquido nos supermercados tenha sido derrubada por liminar movida pelos fabricantes. — No nosso serviço em Goiânia, 70% das mortes em crianças são causadas por queimadura por etanol, que é vendido por R$ 2, R$ 3 no supermercado — disse. O senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da CDH, se propôs a elaborar um projeto de lei voltando a proibir a venda de etanol líquido nos supermercados. — Essas estatísticas vão subsidiar o projeto — afirmou. Acidente doméstico Os líquidos quentes são, segundo os debatedores, a segunda maior causa de queimaduras em crianças até 5 anos de idade. O capitão do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, Nathan Milward, disse que os bombeiros atendem no DF cerca de 4 mil ocorrências por mês, das quais 5% são de queimaduras. Para ele, a solução é educar crianças e pais para a prevenção. — O mais frequente é acidente doméstico, então é importante conscientizar — disse. Os participantes da audiência também reclamaram da ausência de profissionais qualificados para tratar pacientes queimados. Cristina Lopes Afonso, fisioterapeuta e vereadora eleita de Goiânia, disse que, durante a graduação de Medicina, o único aprendizado que os alunos têm sobre o assunto está relacionado aos primeiros socorros. — Trabalho para que a queimadura seja reconhecida como autônoma dentro do sistema de saúde. Que ela seja uma especialidade como a pediatria, a pneumologia, a cardiologia, e isso nos obriga a incluir essas disciplinas dentro dos currículos de formação — disse. Cristina foi vítima de queimadura em 1986, em Curitiba. Em uma tentativa de homicídio, um ex-namorado jogou álcool e pôs fogo no corpo dela. Transferida para Goiânia, recebeu doação de pele dos irmãos. O autor da agressão foi condenado a 14 anos de prisão. Thereza Piccolo alertou para erros que as pessoas frequentemente cometem quando sofrem queimaduras ou ao socorrerem pessoas queimadas — como passar pasta de dente, manteiga, borra de café ou clara de ovo no ferimento. — O correto é lavar com água corrente até a dor passar, embrulhar com pano limpo ou gaze estéril, não perfurar as bolhas e ir para um serviço médico — aconselhou. Jornal do Senado