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22.Fevereiro
Compartilho carta da minha amiga Berenice Piana

Abraço solidário Meu caro amigo Senador Paim, Hoje é um daqueles dias em que a alma veste luto sem no entanto estar enterrando alguém propriamente... Depois de tanto tempo em contato, unidos no ideal de  aprovar a lei do autista, a lei que vem garantir os direitos básicos da pessoa com autismo, eu lhe garanto que já o conheço muito mais do que imagina. Posso ler em sua voz, nas palavras que não diz, na dor que não expressa a dor que lhe vai na alma... Seu semblante é o de um pai que se dedicou uma vida inteira a um filho, dando-lhe o seu melhor, seu amor, cuidados, passou noites em claro, em vigília e pensou na melhor forma de garantir-lhe o futuro. Cercou-se de todas as medidas e tentou com toda coragem os meios para evitar que sofram mais que o necessário... No entanto o filho ingrato, ao ver que o pai não lhe satisfez mais um de seus desejos, ataca-o esquecendo todo um passado, toda uma vida de amor e sacrifícios, lutas e trabalho pensando em seu bem estar... É sofrido seu olhar, é triste seu falar... mas a ingratidão ainda faz parte da vida e só sofrem os que amam... e o senhor ama seu povo... Neste momento caro amigo, eu tomo essa liberdade de esquecer o "excelência" só por hoje, pois quem lhe fala é a amiga, a mãe, a cidadã que se coloca em seu lugar, que consegue fazer essa inversão de situações e tentar estar do lado de lá, o seu lado. Eu comparo essa situação a de um pai zeloso por seu filho, por ter sido essa sua posição para com os excluídos, os esquecidos, marginalizados e vítima de preconceito. Desde o primeiro contato que tivemos, quando lhe entreguei o projeto de lei pedindo que olhasse pelas pessoas com autismo, foi essa a sua postura. Deixo claro aqui, e falo para quem quiser saber, em qualquer ocasião e assino o que digo que: O senhor jamais me perguntou números, jamais quis saber quantos autistas teríamos no Brasil para depois se aliar ao nosso movimento, nos estender a mão!! Não, isso nunca aconteceu e confesso que quando o procurei nem eu sabia o número, tinha apenas uma vaga idéia... Isso fez toda diferença para mim! Isso o enalteceu aos meus olhos pois eu esperava essa pergunta... "políticos só pensam em votos", eu ouvia com frequência, e eu não tinha números para lhe mostrar... sequer tínhamos uma estatística, tal a situação de descaso em que viviam nossos pares... Entendi nesse instante que estava lidando com um ser humano como poucos... alguém que lembrava muito meu querido pai, que hoje mora nos pagos do além... Saraiva Piana hoje está por certo na querência eterna, partiu também, a trotezito no mais, com Cézar Passarinho, e de lá olham por ti Senador Paim, tenha certeza disso. As tuas dores terão fim, terão também uma finalidade. Mostrar ao povo brasileiro que a vida não é um jogo de futebol onde um dia aplaudimos o goleador, gritamos seu nome e lhe aclamamos com toda pompa e galanteria. No outro vaiamos e jogamos pedras porque ele não foi a perfeição que esperávamos... não correspondeu 100% a nossas expectativas... É necessário fazer justiça e amigos se conhece nessas horas, nas horas difíceis, onde ratos abandonam o navio... Um senador que  pouco se importou com números, que não olhou o que teria de votos lá adiante ao abraçar essa causa, simplesmente abraçou, me disse sem dizer nada que seu trabalho era fazer o bem sem olhar a quem... Esta carta está cheia de reticências, talvez porque minha voz estivesse embargada se eu fosse lhe falar, meus olhos cheios de lágrimas por ver tanta injustiça para com sua pessoa... Eu quero ainda lhe externar aqui o sentimento de tristeza ao ver a imaturidade de muitos ao julgar tão friamente alguém que tanto serviu à sociedade brasileira... Rogo-lhe para não desistir, como grande pai que tem sido, de todos nós,  nas causas sociais, amparando aflitos como os autistas, ciganos, aposentados, deficientes,  idosos, não desista senador, por favor!! A verdade e a justiça triunfará pois o bem triunfa sempre!! Afirmo-lhe com toda certeza que não serás julgado por nossa comunidade, pelo movimento em defesa do autista! O grupo Mundo Azul jamais o julgará, pois sabe de sua honestidade e conhece a integridade de seu caráter. Colherás os frutos de tudo que plantaste caro amigo, isto é certo. A plantação foi vasta e a colheita será farta caro Senador Paim, acredite. Usando ainda suas palavras, "tudo que jogamos no Universo, volta para nós," e levando-se em conta isso, o Universo lhe devolverá abundantemente todo bem semeado. Como bom pai que és, esquecerás as ofensas, as injustiças e continuarás seu caminho de construir nosso futuro, pacientemente, sabiamente! Fica aqui o abraço azul de todos nós, na pessoa de uma mãe que lhe agradece mais uma vez em nome de todas as mães de pessoas com autismo desse país, por todo carinho e dedicação com a lei 12.764, Lei Berenice Piana, reconhecida nacionalmente, graças ao seu empenho Senador Paulo Renato Paim Azul  ( a cor do autismo). Com o respeito e admiração de sempre,   Berenice Piana de Piana Membro Fundador do Grupo Mundo Azul Mãe de Dayan Saraiva Piana de Piana, autista, 18 anos.