Em audiência na Comissão de Direitos Humanos, representantes de movimentos da juventude sintetizam reivindicações das manifestações populares que se multiplicaram pelo país em junho AS REIVINDICAÇÕES DE acesso a transporte de qualidade e baixo custo, além de serviços públicos eficientes e ao direito à mobilização popular, mostraram que as manifestações populares ocorridas em junho exigiramEo “direito a cidade”, segundo representantes de movimentos de juventude que ontem participaram de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH).Na condução da audiência, Paulo Paim (PT-RS) elogiou a clareza das opiniões. — Está muito enganado quem pensa que a juventude está alienada — afirmou. Para Gabriel Santos Elias, do Movimento Passe Livre, a mobilização contra o aumento da tarifa do transporte coletivo era a ponta de um conjunto de frustrações, devido à falta soluções prometidas de mobilidade urbana, anunciadas desde a confirmação do Brasil como sede da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. — Boa parte das obras não aconteceu. E com aumento da passagem, adianta melhorar obras de infraestrutura, se a população não consegue usar esse serviço? — questionou.Pressão no CongressoRodrigo Rollemberg (PSB-DF) disse que as manifestações colocaram em xeque políticos, partidos, instituições e a forma como a política é feita.— A gente sabe que o Congresso tem atuado através de pressão, e a pressão da opinião pública funcionou — afirmou.Nicolas Powidayko, coordenador-geral do Diretório Central Estudantil (DCE) da Universidade de Brasília (UnB), considera que a insatisfação é o que une as demandas.— A juventude está pedindo o cumprimento das promessas, quer entrar na faculdade, quer local digno de moradia, quer transporte, saúde de qualidade, educação — disse.Na avaliação de Alessandro Melchior, presidente do Conselho Nacional de Juventude,o estopim das manifestações foi o transporte urbano, pois as horas passadas em ônibus e metrô seriam as mais infelizes do dia nas grandes cidades.A participação de jovens, para Murilo Amatneeks, da Secretaria de Juventude da Presidência da República, mostra o papel da juventude no aperfeiçoamento da democracia.Ana Rita (PT-ES), que preside a CDH, lembrou o protagonismo de entidades e movimentos da sociedade no resgate da democracia e avanço das conquistas sociais.Eduardo Suplicy (PT-SP) destacou propostas aprovadas nos últimos dias no Senado, como a que acaba com o voto secreto no Congresso e a que altera as regras para suplentes. Reivindicação: passe livre sem novo tributoComo resultado dos protestos, o passe livre no transporte coletivo está se tornando possível, na avaliação de Elias. Ele Citou estudo que mostra ser viável implementar tarifa zero em ônibus e metrô sem novos tributos, apenas redefinindo prioridades na aplicação de recursos públicos.Melchior ressaltou que os movimentos reivindicam passe livre para toda a juventude, e não apenas para estudantes. Ele criticou a vinculação do financiamento aos royalties do petróleo, por considerar que criaria concorrência com ações na saúde e educação.— Também não pode se dar por desoneração às grandes empresas. Deve ser feito a partir da taxação das grandes fortunas — disse Melchior.Os debatedores entendem que a repressão das forças policiais levou à expansão das reivindicações para temas como corrupção, serviços públicos e reforma política. Para Elias, a repressão foi percebida como ameaça ao direito do uso das ruas como espaço dos movimentos sociais.Thanisia Marcella Cruz, do Fórum da Juventude Negra do DF, reforçou a importância do direito à manifestação de rua. Idealizadora da campanha A Cor da Marcha, ela disse que é conhecida a violência policial contra jovens negros e apontou a mobilização social como importante estratégia de combate ao racismo.