A Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado aprovou, nessa quarta-feira (20), a realização de uma audiência para acompanhar os desdobramentos das investigações sobre os responsáveis pelo incêndio em 27 de janeiro na Boate Kiss, em Santa Maria, Região Central Rio Grande do Sul, que matou 242 pessoas. O encontro foi marcado após familiares tecerem críticas ao que consideram “descaso” e “abandono” do poder público diante do drama dos parentes. “Quase dez meses depois, sentimos que cada vez mais o Estado enfraquece o suporte à nossa luta. Quem deveria acusar soltou os réus e não responsabilizou servidores públicos. Não desistiremos de lutar por isso e agora vamos a Brasília tentar dar eco à nossa voz”, disse ao G1, o presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, Adherbal Ferreira.Preocupações em relação à saúde dos sobreviventes também será tema da audiência em Brasília. Além disso, os parentes querem expor o que transcorreu em Santa Maria no quesito segurança em casas noturnas, após a tragédia. “Pouco mudou, a tecnologia para fiscalização ainda não é adequada”, garante Ferreira. A data do debate na CDH deve ser confirmada até a semana que vem.\\\"Eles precisam falar o que está acontecendo para que possamos apoiar. Há casais, por exemplo, que perderam todos os seus filhos e precisam, inclusive de apoio psicológico\\\", disse o Senador Paulo Paim (PT-RS), que intermediou o contato dos familiares com a Casa.Novos depoimentosNessa quarta-feira (20), funcionários da Prefeitura de Santa Maria ligados à secretaria da Saúde prestaram depoimento à Polícia Civil. Segundo o delegado regional do município da Região Central do Rio Grande do Sul, Marcelo Arigony, novas investigações apuram supostas fraudes na liberação de licenças à boate Kiss, onde um incêndio na madrugada de 27 de janeiro causou 242 mortes.O alvará sanitário da casa noturna estava vencido no dia da tragédia. Até esta sexta-feira (22), vão falar à polícia servidores da pasta de Meio Ambiente e o ex-secretário Luiz Alberto Carvalho Junior. Segundo a polícia, há indícios de falhas no estudo de impacto da Kiss na vizinhança.EntendaO incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, na madrugada de domingo, dia 27 de janeiro, resultou em 242 mortes. O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco.O inquérito policial indiciou 16 pessoas criminalmente e responsabilizou outras 12. Já o MP denunciou oito pessoas, sendo quatro por homicídio, duas por fraude processual e duas por falso testemunho. A Justiça aceitou a denúncia. Com isso, os envolvidos no caso viram réus e serão julgados. Dois proprietários da casa noturna e dois integrantes da banda foram presos nos dias seguintes à tragédia, mas a Justiça concedeu liberdade provisória aos quatro em 29 de maio.Veja as conclusões da investigação- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso no palco- As faíscas atingiram a espuma do teto e deram início ao fogo- O extintor de incêndio do lado do palco não funcionou- A Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás- Havia superlotação no dia da tragédia, com no mínimo 864 pessoas- A espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular- As grades de contenção (guarda-corpos) obstruíram a saída de vítimas- A casa noturna tinha apenas uma porta de entrada e saída- Não havia rotas adequadas e sinalizadas de saída em casos de emergência- As portas tinham menos unidades de passagem do que o necessário- Não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas G1 GLOBO