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09.Abril
Político desde a adolescência,Paulo Paim celebra a liberdade

O senador pelo PT do Rio Grande do Sul recorda os duros tempos da ditadura: “As palavras liberdade, amor, respeito, carinho, solidariedade não existiam na época”Em março de 1964, eu era estudante, cursava o Senai e já estava no ginásio noturno para trabalhadores. Era o curso técnico de dia e o ginasial à noite. Quando veio o golpe, clara foi uma indignação generalizada. No ano seguinte, com 15 anos, eu fui eleito presidente do ginásio noturno e começamos a fazer aquela mobilização, natural da época, contra o golpe militar. E depois de dois anos na presidência do grêmio do ginásio noturno, fui convocado a sair. PerseguiçãoComo eu liderava um movimento de indignação, fui chamado pelo Exército: “Olha, gurizão, tu é até um guri bom, mas não pode mais continuar na presidência do ginásio, vamos te colocar em um outro ginásio, o Ginásio Estadual Santa Catarina, mas você tem que assumir um compromisso de não fazer política e não assumir a presidência do grêmio, acertamos com a diretora de lá. Você promete?”. Naquela altura do campeonato, moleque, dentro do quartel de Caxias do Sul [RS], eu disse “prometo”. CoragemDois meses depois que estava no ginásio, fizeram uma chapa, fui indicado presidente, concorri e fui eleito. Então a diretora me chama e diz: “Ou tu deixa a presidência do grêmio ou vai deixar o colégio”. Eu disse, “Olha, diretora, pra mim é difícil fazer isso”. Aí ela falou: “Vamos para uma assembleia”. Fomos para a assembleia. Agora, calcula, aquela molecada toda, todos rebeldes, o que aconteceu? “Fica, Paim, fica, Paim”. Claro, nem teve assembleia. Por unanimidade exigiram que eu ficasse. Mas aí o clima ficou insustentável e saí. Saí do colégio e, inclusive, parei de estudar, porque não tinha mais condições de ficar lá. ManifestaçõesEm Canoas [RS] eu já estava no mundo do trabalho, no grupo Tramontina. Em seguida, eu me elegi presidente da Cipa, comissão interna de prevenção de acidentes. Fiz o curso técnico também nessa área e fui eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas. Passei a fazer grandes manifestações entre Canoas e Porto Alegre pela volta da democracia. Fiz a primeira caminhada, em 1979 ou 1980, de Canoas a Porto Alegre a pé, mais ou menos umas cinco horas, exigindo a volta da democracia e a liberdade. Saio de Canoas com 5 mil homens e chego a Porto Alegre com 30 mil homens. Fomos para a frente do palácio. Lembro-me que, quando entrávamos pela via principal, que era a Farrapos, a população jogava papel dos edifícios, cumprimentando, elogiando. Movimento sindicalEu não era filiado a partido algum, mas aí tem um outro episódio, que tem a ver com a ditadura. Àquela época o movimento sindical rachou, foram citadas diversas centrais e eu fiz opção pela CUT. Fui então designado, junto com Abdias, um sindicalista do Rio de Janeiro, e João Paulo de Monlevade para levar um dossiê para a Europa denunciando o que estava acontecendo aqui no Brasil. Só que, quando chegamos ao aeroporto de São Paulo, as informações chegaram aos militares da ditadura e me prenderam. Aí me deixaram lá horas e horas, pegaram o dossiê e disseram: “O dossiê não vai”. Aí eu disse: “Sim, mas eu vou”. Eles disseram: “Você vai, vamos te liberar para você ir, mas o dossiê fica”. Na EuropaAssim mesmo fui para diversos países da Europa denunciando o que estava acontecendo no Brasil: a tortura, o massacre, a falta de liberdade e a própria ditadura. E eles se comprometiam muito, cada país, em ajudar, em fazer movimento para que a democracia voltasse a acontecer aqui no nosso país. As centrais, em seu surgimento, tiveram apoio por parte das centrais dos países de primeiro mundo, no aspecto  financeiro, de apoio político e de denúncias — que todos faziam, nos fóruns internacionais, falando dessa realidade do nosso país. Isso contribuiu de uma forma ou de outra para a gente avançar. A escolha do PTComo eu liderava um movimento sindical gaúcho e só havia uma central sindical, chamada Central Estadual dos Trabalhadores, havia muita pressão para que eu me filiasse a um partido. A própria presidenta Dilma entregou muito panfleto naquela época na porta de fábrica ajudando a minha campanha, tanto para dirigente sindical como depois para deputado. E quando o Congresso Estadual de Trabalhadores do Rio Grande do Sul, em plena ditadura, resolveu que tinha que ter um deputado federal, meunome saiu por unanimidade. O Lula foi a um comício lá em Canoas e, no fim do comício, falou comigo. Ao fim de uma hora e meia, eu estava assinando uma ficha de filiação ao PT.O que ficouA gente aprende que a coisa mais bonita é a liberdade. As palavras liberdade, amor,  respeito, carinho, solidariedade não existiam na época. Só quem viveu a ditadura sabe o quanto é importante a liberdade e o dever que nós temos de contar o que foi a ditadura e como é bom ser livre, livre, livre. Clique AQUI para ver a edição completa Fonte: Agência Senado