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24.Novembro
PT precisa retornar às bases, diz Paim

O senador Paulo Paim (PT-RS), em visita a Fortaleza, defendeu que a vitória apertada da presidente Dilma Rousseff na disputa deste ano sinalizou que o próprio Partido dos Trabalhadores precisa retornar ao trabalho de base a partir do qual a legenda se construiu e se fortaleceu ao longo dos últimos anos. O parlamentar participou, ontem, na Capital, de almoço com industriais e empresários no Centro Industrial do Ceará (CIC), onde reconheceu a necessidade de sua legenda amadurecer para evitar uma derrota no futuro.Na avaliação do senador Paulo Paim, após 12 anos à frente do Governo Federal, o PT estabeleceu uma relação com movimentos sociais e militância apenas de forma institucional, abandonando a preocupação com o diálogo firmado com cada setor. Para o petista, a revitalização da legenda será alcançada somente quando essa reaproximação for colocada como prioridade.\"O PT se afastou um pouco das suas raízes. Eu mesmo sou considerado um rebelde, porque eu sou o chamado PT de raiz. Ele se afastou muito dos movimentos sociais, populares. Ficou mais no institucional. E esse afastamento fez com que, na hora da disputa eleitoral, grande parte da nossa militância, daquelas entidades que articulavam um processo de baixo para cima se distanciassem da campanha eleitoral\", explicou o senador.Movimento popularPaulo Paim ressaltou que essa relação de debate com o movimento popular foi o que fortaleceu o partido, apaixonou o povo brasileiro e garantiu a eleição de Lula ainda nas disputas de 2002 e de 2006. \"Acho que a aproximação com o PT de raiz, com o PT verdadeiro que apaixonou multidões e que levou o Lula a se eleger e reeleger é o que deve ser buscado pelo partido. O PT se afastou e ficou no campo institucional. Daqui de cima dizendo lá para baixo, mas não discutindo de baixo para cima a retomada dos grandes projetos. Por isso que nós falhamos e o PT tem que voltar a essa realidade\", ponderou o parlamentar.O senador negou, no entanto, que o retorno do PT às raízes tenha que passar pelo campo ideológico ao destacar que a ideologia está longe do debate interno de cada partido vigente no País. Paulo Paim afirmou ainda que cada legenda precisa se concentrar na política de resultados e discutir as melhores formas de garantir à sociedade as questões básicas para uma vida de qualidade.\"Sinceramente, o debate ideológico está muito longe dos partidos no Brasil. Hoje em dia a população quer a política de resultados, quer saber como fica o salário, como fica a moradia, como fica a saúde, como fica a educação. Isso é o que toca e quem souber trabalhar atendendo a população nas questões básicas para que se viva com qualidade de vida e com dignidade avança. O PT tem, claro, isso como os demais partidos também já perceberam isso. O debate ideológico não soma mais nada e nem divide de tão insignificante que ele já se tornou. Agora, é preciso ter propostas concretas, realistas e que mexam no dia a dia da população\", frisou o senador.O parlamentar reconheceu que o envolvimento de nomes do PT com casos de corrupção também agravou a imagem do partido, prejudicando o desempenho da legenda no pleito. \"É inegável que tiveram setores do PT que se envolveram pelo chamado caminho que resultou nessa visão nacional de que muita gente acha que o PT é corrupto. Ao longo da vida do PT, nós sempre pregamos o combate à impunidade e, a partir do momento em que alguns filiados embarcaram nessa canoa que culmina com essas denúncias, claro que pesa mais no partido que mais cobrava\", opinou Paulo Paim.Estratégia de comunicaçãoO senador também justificou que o PT falhou na estratégia de comunicação das ações do Governo Federal. \"O outro motivo claro é que tu tem que mostrar o que fez. Acho que nós fizemos muito e mostramos pouco. É inegável que foram tiradas 30 milhões de pessoas da miséria absoluta, aumentar o salário mínimo, programas como Prouni, Minha Casa, Minha Vida e Luz para Todos. A própria política econômica. A crise ainda está lá fora e não chegou ao Brasil. Apesar disso tudo, acho que o sistema de comunicação permanente para a população não foi a um nível que eu gostaria\", acrescentou.Ao analisar a derrota de Tarso Genro, no Rio Grande do Sul, Paulo Paim apontou praticamente as mesmas razões que justificou para a vitória apertada da presidente Dilma Rousseff. O parlamentar rebateu, porém, a tese de que a urnas revelaram que o Brasil está dividido.\"Acho que, apesar de tudo, ganhamos as eleições. Foi com uma diferença pequena, mas ganhamos. A maioria do povo brasileiro referendou o nosso projeto, mas claro que a oposição saiu fortalecida até mesmo pelo número de votos. Agora discordo da maioria que diz que o Brasil está dividido. Barack Obama ganhou a última eleição nos Estados Unidos por menos de 3% e nem por isso lá se disse que o País estava dividido\", completou.Senador defende o direito à revisão da aposentadoriaO senador Paulo Paim (PT-RS) também revelou, ontem, em visita a Fortaleza, a expectativa com a discussão no Supremo Tribunal Federal (STF) acerca da proposta que possibilita ao trabalhador aposentado ou seu pensionista o direito à desaposentadoria.O parlamentar esclareceu que a proposta permite ao aposentado que voltou a trabalhar, após fazer novas contribuições, faça o recálculo de seu benefício, alterando o valor dos proventos a serem recebidos. \"A desaposentadoria vai apenas permitir ao aposentado que voltou a trabalhar para que ele possa usar essas novas contribuições para recalcular o seu benefício\", esclareceu Paulo Paim.O senador negou que a medida possa impactar negativamente na Previdência Social e ressaltou que a desaposentação já é permitida no Poder Executivo, Legislativo e Judiciário.\"Isso é mais do que justo e não cria impacto bombástico, como alguns dizem, na conta da Previdência. Já existe isso para o servidor público. É aquilo que eu digo. Se para o Executivo, Legislativo e Judiciário pode, por que para o trabalhador não pode? É justo que ele possa escolher o melhor benefício para ele\", pontuou o petista.Paulo Paim destacou que chegou a apresenta no Congresso Nacional, ainda no mês de maio, uma projeto de Lei com o mesmo objetivo e disse acreditar no entendimento favorável do Supremo Tribunal Federal no debate sobre o tema.\"Eu sou totalmente favorável à desaposentadoria. Tenho, inclusive, um projeto no Congresso de minha autoria e estou acompanhando a discussão no Supremo Tribunal Federal (STF). Nós já ganhamos no STJ (Superior Tribunal de Justiça) por nove a zero e acredito que vamos ganhar também junto ao Supremo\" afirmou Paulo Paim, após o almoço com industriais e empresários no Centro Industrial do Ceará (CIC).O projeto de Lei está na Comissão de Assuntos Sociais do Senado e, de acordo com Paulo Paim, ela já recebeu o parecer favorável do relator. O parlamentar aposta que o posicionamento do STF será alcançado antes do Congresso Nacional.\"Tenho esperança que o Supremo se posicione antes do próprio Congresso pela aprovação. Se o Supremo se posicionar, como eu tenho a expectativa, está resolvida a questão\", revelou.Fator previdenciárioPaulo Paim lembrou também que continua a lutar pelo fim do fator previdenciário para os trabalhadores do Regime Geral de Previdência Social. Ontem, o senador chegou a assegurar aos industriais e empresários que já cobrou medidas à presidente Dilma Rousseff.\"Eu me considero o maior inimigo do fator previdenciário em toda a história deste País. Desde que ele surgiu, ainda no governo anterior, eu fui contra. O meu Governo não mexeu e tinha que ter mexido. Já cobrei isso do presidente (Lula), já cobrei isso da presidenta (Dilma Rousseff)\", garantiu o senador.O parlamentar justificou a indignação dele com o chamado fator previdenciário ao ressaltar que ele é aplicado para o trabalhador comum e não é para os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em que o teto dos proventos é de R$ 30 mil.\"No Executivo, no Judiciário e no Legislativo, onde eu estou, o limite é de R$ 30 mil e lá não tem fator previdenciário. Já o trabalhador do regime geral, em que o teto é R$ 4.360, perde a metade de seu vencimento com o fator previdenciário. O trabalhador que tinha o direito de se aposentar com pelo menos R$ 4.300 vai se aposentar com R$ 2.100\", comparou o senador.Paulo Paim disse ainda que nenhum dos presidenciáveis na disputa deste ano quis abordar o tema inicialmente. \"Não tem cabimento. É essa injustiça que me revolta, que me deixa muito indignado. Posso dizer a vocês que eu pautei os presidenciáveis. Eles não queriam falar sobre o fator previdenciário\", frisou.Outra demanda dos aposentados, segundo Paulo Paim, é a luta pela valorização dos proventos assim como existe com o salário mínimo. \"O aposentado não tem uma política de valorização do benefício como tem o salário mínimo. O salário mínimo tem a inflação mais o PIB. Como o aposentado que ganha mais que o mínimo recebe somente a inflação, a tendência ao longo dos anos é que todos vão acabar tendo benefício achatados e vão passar a ganhar somente um salário mínimo\", analisou.Para tentar corrigir o problema, Paim disse que chegou a ser aprovado um projeto no Senado, que ainda aguarda a votação na Câmara, garantindo ao aposentado o direito de receber os proventos de acordo com o número de salários mínimos que recebia quando se aposentou. Diário do Nordeste