Senadores e os representantes do governo e de entidades sociais defenderam a manutenção do decreto presidencial que instituiu a Política Nacional de Participação Social (PNPS), durante audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), nesta segunda-feira (15).Editado em maio pela presidente Dilma Rousseff, o Decreto 8.243/2014 tem entre seus objetivos consolidar a participação social como método de governo; promover a articulação das instâncias e dos mecanismos de participação social; e aprimorar a relação do governo federal com a sociedade civil, respeitando a autonomia das partes. Também promove e consolida a adoção de mecanismos de participação nas políticas e programas do governo federal e incentiva a participação social nos entes federados.Em outubro, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de decreto legislativo para sustar os efeitos do decreto (PDS 147/2014), que está na pauta da CCJ do Senado com parecer favorável do relator, senador Pedro Taques (PDT-MT).Resposta às ruasNa abertura dos trabalhos, a presidente da CDH, senadora Ana Rita (PT-ES), lamentou o fato de a Câmara ter aprovado o projeto PDS 147/2014. Para ela, a maioria dos deputados \"desprezou as vozes das ruas\".— Suspendeu um dos mecanismos fundamentais que pretende orientar e regulamentar a política de participação social no governo. Que o Senado não siga a Câmara em sua conduta antidemocrática, impedindo a participação da sociedade nos rumos do país — disse.Ana Rita afirmou que a PNPS foi uma resposta do governo às manifestações de junho do ano passado, quando teria ficado claro que a democracia representativa por si só já não estava dando conta das reivindicações populares. Lembrou que o slogan \"não me representa\" foi o mais comum em referência ao modelo político nacional, e que a PNPS apenas buscou dar legitimidade a um fluxo de radicalização democrática.A senadora observou que já existem inúmeros conselhos e conferências atuando formalmente na área social, em parceria com o governo, e que a PNPS busca apenas dar uma maior organicidade a esse modelo.— A PNPS dá voz a todos, independente de serem ou não parlamentares — assegurou Ana Rita.O senador Paulo Paim (PT-RS) afirmou ter ficado perplexo com a rejeição à proposta e com as críticas que ela tem recebido. Favorável à aprovação da Política Nacional de Participação Social, ele revelou que vai propor ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a realização de uma comissão geral em plenário sobre a matéria, ampliando o debate sobre o assunto.Críticas ideológicasPara Pedro Pontual, representante da Secretaria-Geral da Presidência da República, o decreto não invadiu nenhuma prerrogativa do Poder Legislativo. Pontual enfatizou que a norma apenas busca regular a participação de organizações livres da sociedade no Poder Executivo. Ele considera \"descabidas\" as críticas de que a PNPS busca implantar o \"modelo soviético\" ou \"bolivariano\" na sociedade brasileira.O ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Dipp também afirmou ter ficado perplexo com a reação que a PNPS provocou. Segundo ele, sob o aspecto jurídico a política proposta não afronta a Constituição em nenhum artigo e em nenhum princípio.— A democracia é muito mais que uma formalidade e o partido vencedor tem o direito, quem sabe a obrigação, de buscar implementar o modelo de gestão participativa que propõe. Ou a democracia deve ser tolhida simplesmente ao processo eleitoral? — questionou o ex-ministro.Também o coordenador do Núcleo de Estudos de Direitos Humanos da UNB, José Geraldo Souza, apoiou o decreto, afirmando que ele favorece uma cultura de cidadania ativa em vez de passiva, que seria a defendida pelas oligarquias e elites tradicionais.O representante da CNBB, Marcello Lavenère, também manifestou-se favorável à PNPS. Para o advogado, a Câmara dos Deputados teria \"usurpado\" o poder do povo ao aprovar o PDS 147/2014. Ele acredita que as críticas provêm de uma visão de parte da elite contrária a qualquer processo de inclusão social e política dos mais pobres. Lavenère responsabilizou grande parte da mídia privada pelas reações que a proposta tem provocado.— É uma mídia que defende interesses políticos ligados ao grande capital, que vira as costas para as pautas populares, que mente, desinforma — afirmou.A presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Maria do Socorro Souza, também criticou a Câmara pela posição contrária. Para ela, essa postura contribui para o que vê como a tentativa da grande mídia de \"criminalizar movimentos sociais\".Agência Senado