VALOR ECONÔMUCO Nelson Barbosa diz que há pouco para negociar Edna Simão e Raquel Ulhôa De Brasília O governo federal está disposto a negociar mudanças pontuais para garantir a aprovação das medidas provisórias que restringem o acesso ao seguro-desemprego, abono salarial e pensão por morte, desde que não impliquem em mudança da estrutura geral das medidas.Apesar da resistência existente no Congresso Nacional em aceitar alterações que, para alguns, implicam em redução de benefícios trabalhistas e previdenciários, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, afirmou que o espaço para a negociação é pequeno. “Estamos dispostos a negociar alguns pontos. Queremos manter a estrutura geral das medidas”, afirmou Barbosa. “Vamos discutir a modulação disso com os relatores”, ressaltou o ministro. Com as mudanças nas regras, o governo deve reduzir suas despesas em R$ 18 bilhões.Barbosa e o ministro da Previdência Social, Carlos Eduardo Gabas, participaram ontem de audiência pública e pediram aos parlamentares a aprovação das medidas provisórias 664 e 665 para corrigir distorções e garantir a sustentabilidade de programas como seguro-desemprego e abono salarial no longo prazo, assim como da Previdência Social.Eles reforçaram que estão dispostos a negociar.Mas a avaliação do governo, segundo o ministro do Planejamento, é de que as alterações propostas nas MPs foram feitas com um “grau correto para a atual realidade da economia brasileira”. Apesar de dizer que o limite de negociação é pequeno, Barbosa não informou quanto poderia abrir mão da economia de R$ 18 bilhões para garantir a aprovação da matéria. “O limite é muito pouco. Esse número será decidido ao longo da negociação. Acho que é possível preservar a direção das medidas adequando a sua inensidade a preocupação dos parlamentares.Mas o espaço é muito pequeno”, comentou.Para o governo, as mudanças propostas pelo Executivo, no curto prazo, pode até dar um alívio para as contas públicas. “Não são medidas de ajuste fiscal. São medidas de reforma estrutural. São ajustes para nova realidade econômica do Brasil”, disse o ministro, ressaltando que as alterações propostas são “urgentes, essenciais e necessárias”, mas que o governo está “aberto ao diálogo” com o Congresso, para que elas sejam aperfeiçoadas.Na mesma linha, Gabas afirmou que as mudanças nas regras da Previdência Social propostas pelo governo são estruturais e necessárias para garantir a sustentabilidade do programa, diante da transição demográfica.“Sobreviveremos até 2018, se regras não forem mexidas. Mas, quanto mais o tempo passar, mais as medidas terão que ser drásticas”, destacou o ministro da Previdência Social.Mesmo com a defesa e apelos dos ministros, vários parlamentares afirmaram ser contrários a mudança e se não houver flexibilização de alguns pontos não aprovarão os ajustes propostos pelo governo. O senador Paulo Paim (PT-RS), por exemplo, ressaltou que as propostas “não têm a menor chance” de aprovação no Congresso, especialmente num momento de popularidade tão baixa do governo. Ele ainda defendeu “um grande entendimento” para que sejam elaborados dois substitutivos com medidas necessárias para a sustentabilidade dos programas, mas sem prejudicar a população mais pobre. “Quem rouba nesse país não é pequeno, é grandão”, afirmou e foi aplaudido pelos representantes e entidades sindicais presentes à audiência pública, boa parte do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais. O deputado Glauber Braga (PSB-RJ) advertiu aos ministros que as dificuldade de aprovação “são extremas”, especialmente num cenário de dificuldades econômicas. Considerou um “erro” justificar as medidas como necessidade de corrigir distorções dos programas. “Não é verdade.As medidas estão sendo propostas por conta do ajuste mesmo”, disse.O deputado tucano Betinho Gomes (PE) complementou dizendo: “Se não faz parte do ajuste [fiscal] e não tem rapidez para aprovação da medida, poderia ser um debate mais aprofundado.Minha impressão é que essas medidas terão muita dificuldade de ser aprovada”.