REGRA É ESTENDIDA aos que ganham mais de um salário. Presidente deverá vetar o textoEm mais uma dura derrota do governo, os senadores decidiram ontem aprovar medida provisória (MP) que estende a política de valorização do salário mínimo aos aposentados. A decisão foi tomada sobre o mesmo texto que veio da Câmara, onde foi incluída a equiparação da fórmula do reajuste do mínimo para a aposentadoria.A proposta é vista como uma bomba fiscal pela equipe econômica e já é certo que a presidente Dilma Rousseff vai vetar o projeto. Essa rejeição, porém, mesmo confirmada, poderá ser derrubada pelo Congresso. Nesse caso, a proposta aprovada ontem passaria a valer imediatamente.Mas os senadores alteraram a redação do projeto. A manutenção até 2019 da fórmula de reajuste do mínimo (que leva em consideração o resultado do INPC dos últimos 12 meses mais a variação do PIB de dois anos antes), que era o centro da proposta original, foi separada da extensão dessa mesma fórmula aos aposentados que ganham acima do mínimo.Com isso, Dilma poderá vetar apenas a parte dos aposentados, sem precisar rejeitar toda a política de reajuste do mínimo, e sem a necessidade de mandar outra MP sobre o tema para o Congresso.A equipe econômica considera inviável que as aposentadorias de quem recebe mais de um mínimo tenham ganho acima da inflação, que já está sendo concedida pela regra atualmente em vigor. Para o Planalto, isto afetaria todo o esforço de ajuste fiscal.Ontem, a manobra feita pelo governo consistia em aprovar uma emenda para que o texto voltasse à Câmara. A ideia era ganhar tempo, para que a MP perdesse a validade, o que estava previsto para acontecer no próximo dia 20. Com isso, Dilma não teria de vetar o texto e evitava novo desgaste tanto com o Congresso quanto com os aposentados. A estratégia, no entanto, não teve sucesso.Um dos principais defensores da equiparação dos reajustes feita na Câmara, o senador Paulo Paim (PT-RS) disse que muitos aposentados contribuíram, ao longo da vida, com valores muito superiores e, ao longo dos anos, viram suas aposentadorias minguarem.– Se não houver uma política salarial que garanta que o benefício do aposentado cresça, no mínimo, o correspondente ao salário mínimo, com certeza absoluta, ligeirinho, ligeirinho, todos os aposentados do regime geral ganharão somente um salário mínimo – afirmou Paim.PLANALTO CONSIDERA A DECISÃO PÉSSIMADurante a votação, houve bate- boca entre Paim e Cristovam Buarque (PDT-DF), autor da emenda que, se fosse aprovada, levaria a medida de volta para a Câmara. Assim que a emenda foi rejeitada, o líder do governo, Delcídio Amaral (PT-MS), pediu para que a redação final não fosse lida.O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), porém, cumpriu os trâmites regimentais necessários e colocou o texto em votação simbólica logo em seguida, na mesma sessão. Quando a derrota do governo ficou evidente, Delcídio desabafou:– Temos de ser responsáveis. Estamos tomando decisões altamente temerárias.Além da oposição, senadores da base e do próprio PT, como Paim e Walter Pinheiro (BA), votaram a favor da proposta.No Palácio do Planalto, a decisão foi considerada “péssima” e “inaceitável”. Um assessor da presidente avaliou que a maneira como o texto foi aprovado teve por objetivo direto promover o desgaste de Dilma. No governo, há ainda a tese de que esta foi mais uma “maldade” de Renan contra a presidente, em represália pela decisão da Justiça do Distrito Federal de abrir processo de improbidade administrativa contra ele. ZERO HORA