Em audiência pública pela passagem dos 61 anos de morte do presidente Getúlio Vargas, senadores trabalhistas, historiadores e lideranças sindicais demonstraram preocupação com a possível alteração de direitos dos trabalhadores por projetos em tramitação no Senado. O PLC 30/15 que trata da terceirização e o PL 131/15 que altera o regime de partilha do Pré-Sal foram temas do debate. A Comissão também recebeu denúncia pela negativa do governador do Distrito Federal, ex-senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), em aceitar a instalação de um memorial em homenagem a outro herdeiro do trabalhismo, o presidente João Goulart, deposto pela ditadura militar. A audiência na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH Senado) compõe a Semana \"O Trabalhismo no Brasil\", que também realiza sessão solene no plenário da Casa hoje. A audiência foi palco de denúncia e debate sobre os temas trazidos pelas lutas de Getúlio, como o desenvolvimentismo, a soberania nacional, o petróleo e os direitos dos trabalhadores. \"Estamos aqui revivendo a história do povo brasileiro, de pessoas como Getúlio, cuja vida estava direta envolvida com a história do nosso povo. O Brasil hoje tem sede de políticos como os quais acabamos de citar. Temos a obrigação moral de recuperar o Brasil deste momento, que está longe das grandes crises que o Brasil já viveu, mas falta um guia\", lembrou o senador Telmário Mota (PDT-RR), proponente da audiência e da Semana do Trabalhismo. Também emocionado, o senador Paulo Paim (PT-RS) lembrou da perda que representou a morte de Getúlio. \"Eu era criança quando isso aconteceu. Minha família chorou a perda de Getúlio, e por sabedoria teve de esconder logo nas ditaduras seguintes a foto dos líderes trabalhistas que seguiram, como Brizola e Jango, sabendo do risco que corríamos. Mas meus pais nunca me deixaram esquecer da importância do trabalhismo para nós de classe trabalhadora\", lembrou Paim. O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) também prestou homenagem ao grande estadista. O senador nasceu no dia exato de morte do presidente, 24 de agosto, destacando o brilhantismo e a inteligência deste brasileiro. \"Ele fundamentou as bases do trabalho em nosso país\". O senador Elmano Férrer (PTB-PI), do partido de Vargas, lembrou do \"silêncio sepulcral\" que se fez na cidade de Crato, onde estudava naquele ano de 54, no estado do Ceará. \"Ao silêncio, após aquele tiro que ecoou no internato onde estudei, seguiu-se o pranto, especialmente das cozinheiras e dos trabalhadores mais humildes. O Brasil estava sem pai, sem o defensor de seus direitos\", afirmou o senador Férrer. Trabalhismo e petróleo em risco O representante do Ministério do Trabalho e Emprego, assessor especial, Oswaldo Meneschy, lembrou da perda para sua família no momento da morte do presidente, ressaltando ainda o caráter cíclico dos ataques de que sofrera Getúlio e hoje voltam a se abater sobre as classes trabalhadoras. \"Lembro da opinião de Barbosa Lima Sobrinho, e Darcy Ribeiro, que afirmavam ser Getúlio o mais amado pelo povo, e o mais detestado pelas elites\", afirmou. Ele destacou o risco da rediscussão do modelo de partilha do Petróleo que tramita no Senado, que traz risco para a soberania nacional. Na mesma linha, o Secretário Geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Rodrigo Rodrigues, foi enfático ao defender a rejeição do mesmo projeto de lei 131/15, de autoria do Senador José Serra (PSDB-SP), bem como do PLC 30/15, que versa sobre a terceirização. Para o historiador, José Augusto Ribeiro, autor do livro A Era Vargas, o ataque das forças internacionais interessadas em explorar o petróleo brasileiro e as riquezas em estado bruto do país, como as comoditties, foi o real motivo da violenta campanha desencadeada contra Getúlio. A difamação e a constante propaganda por parte do sistema de mídia instalado no país, à época comandado por Assis Chateaubriand, dos Diários Associados e comandados pelo jornalista Carlos Lacerda teriam sido determinantes, segundo explicou o autor. \"Getúlio disse, \'quem entrega o petróleo, entrega a soberania do país. Tive o relato do ex-senador e hoje vice-presidente do Rio, Francisco Dorneles, filho do general Mozart Dorneles, chefe da casa militar do gabinete de Getúlio, que me contou essa história de seu pai. Ele foi conversar com Assis Chateaubriand, sobre a campanha sanguinária contra Getúlio. A Rede de Assis Chateaubriand tinha canais em SP e RJ e jornais em todos os estados, entregues ao controle de Lacerda, e Chateau disse: \'Mozart, adoro Getúlio, sou seu maior admirador. Basta o Getúlio desistir da Petrobras para que eu pare com toda essa campanha\'. Getúlio morreu mas concedeu a geração de nossos netos essa coisa assombrosa que é o Pré-Sal. Só o Brasil descobriu o Pré-sal em todo mundo\", afirmou o biógrafo. José Augusto Ribeiro lembrou ainda que o grande trunfo do estadista Vargas foi ter lutado pela modernização do país, olhando para o princípio da justiça social. \"Vargas foi alfabetizado por um ex-escravo da fazenda onde viveu, e seu melhor amigo era o filho deste senhor. Dali nascia o senso de justiça e igualdade de Getúlio\", explicou. O secretário da CUT reiterou o papel de Vargas com relação às leis trabalhistas e a soberania nacional. \"Nada mais fez do que modernizar o Brasil para que todos e todas tivessem o direito de desfrutar a riqueza conquistada aqui. Não por acaso reconheceu o direito das mulheres, Vargas foi um trabalhista que defendeu a força dos trabalhadores. Vargas era um árduo defensor da classe trabalhadora e por conta disso foi perseguido pela imprensa e pelas elites\", disse. O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade (Contratuh), Moacyr Tesch, questionou o risco de retrocessos dos direitos conquistados. \"Como nossos filhos e netos irão nos cobrar amanhã: olha pai, no seu tempo tinham direito de férias remuneradas, previdência social, folga em fim de semana. O que dirão para nós se deixarmos acabarem com as conquistas que custaram a vida de Getúlio\", afirmou. CDH recebe denúncia Na audiência, João Vicente Goulart, filho do presidente trabalhista deposto pela ditadura, João Goulart, resgistrou protesto pela negativa do atual governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, em aceitar a instalação do Memorial João Goulart no Eixo Monumental de Brasília, próximo ao Memorial JK. Para João Vicente, a perda do espaço, que já estava em fases de planejamento de obras, após oito anos em tramitação pelos órgãos competentes, é uma falha lastimável, de um governador que \"não atende aos princípios do Partido Socialista Brasileiro\" ao negar tal monumento. \"Não se trata de algo personalista sobre Jango, mas algo referente à memória, verdade e justiça para o povo com relação à luta pela democracia do país\", afirmou. Ele apresentou oficialmente denúncia à Comissão de Direitos Humanos do Senado, lembrando que tal espaço foi referendado por assinatura de mais da metade dos senadores da Casa. O senador Paim, juntamente com o presidente da sessão, Telmário Mota, acataram a denúncia e propuseram um reunião com o governador Rollemberg sobre o tema, avaliando a gravidade e os motivos da não instalação. O secretário-geral da CUT, Rodrigo Rodrigues se solidarizou com a questão, lamentando a mudança de posição do governador após pressões de veículos de comunicação ligados aos mesmos Diários Associados que promoveram a campanha de ódio contra Getúlio nos anos 50.