Direto do Rio de Janeiro, o senador Paulo Paim (PT) conversou com a reportagem da Folha de Caxias sobre variados assuntos. O petista foi enfático em afirmar que se o PT não mudar, ele deverá migrar para outra sigla. Conforme Paim, o diálogo tem sido mantido com cerca de dez legendas, dentre elas, o PSB, a Rede, o PDT e o PTB. Na entrevista, ele expõe também como os escândalos de corrupção no país têm afetado o trabalho no Congresso Nacional e trata sobre a questão das mudanças em direitos trabalhistas. O petista defende ainda que a previdência social não é deficitária e avalia como será o desempenho do PT nas eleições municipais de 2016. Folha de Caxias: A Constituição de 1988 recepcionou uma série de direitos trabalhistas considerados um avanço. De lá para cá, houve mudanças em detrimento dos direitos dos trabalhadores. O senhor acredita que essas alterações geraram um retrocesso? Paulo Paim: Eu fui constituinte e em matéria do texto constitucional não mudou muito. O que está acontecendo hoje no Brasil é um movimento muito forte para que aconteçam mudanças, e é isso que eu tenho contestado e feito um bom combate no Congresso. Mas, se tu olhares numa retrospectiva histórica, não houve grandes retrocessos de legislação. A lei não mudou tanto que dê para dizer que eles mutilaram a Constituição, tentaram, mas não conseguiram. Por exemplo, há mais ou menos 14 anos, eles tentaram passar que não valeria mais a lei, mas sim o negociado, meio que estabelecer a ‘lei do cão’, a lei do mais forte, entre empregado e empregador, aí eu consegui derrubar, quando estava na Câmara ainda e depois no Senado, e agora, há pouco tempo, eles tentaram de novo, mas consegui derrubar de novo para que prevaleça a lei e em cima da lei, daí você pode negociar. Agora eles estão tentando passar a terceirização da atividade fim e isso meio que esculhamba de novo a relação entre empregado e empregador. Estou viajando o Brasil todo e estou votando e aprovando a carta de cada Estado e nessa carta sai a reprovação dessa proposta de terceirizar atividade fim. Eles querem mexer também na previdência, isso é verdade. Eu também tenho resistido, tenho dito que a previdência é superavitária, a média de superávit da seguridade social do regime geral da previdência social é R$ 50 bilhões por ano e eles dizem que é deficitária. E eu provo que não é deficitária. Folha: Essas mudanças na aposentadoria significaram um avanço ou um retrocesso em relação ao fator previdenciário? Paim: Sempre briguei contra o fator previdenciário e aprovei o fim dele no Senado. Na Câmara aprovamos também, mas a presidente vetou e encaminhou uma medida provisória, que em parte atende aquilo que nós queríamos, que é a fórmula 85/95. Essa fórmula não é seis por meia dúzia como alguns dizem. Ela é interessante porque permite que a mulher se aposente com 55 (anos) de idade e 30 de contribuição e o homem se aposente com 60 de idade e 35 de contribuição. Então, essa fórmula alternativa criada e que já está em vigor, e eu fui um dos construtores dela, não só eu como outros, tem essa vantagem. O que eu discordei foi da regra de progressão, que daqui a dois anos, não é mais 85 é 86, dali a mais dois anos já não é 86 é 87, isso ela vai subir a cada dois anos um e nos próximos cinco anos, mas se compararmos em relação ao fator, é inegável que a fórmula 85/95 é bem melhor. Folha: Há muitos escândalos de corrupção que estão sendo divulgados. Isso tem prejudicado o trabalho no Senado? Paim: Claro que tem. É uma lástima que escândalos tanto na previdência quanto na Petrobras, no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), como na Operação Zelotes, que pega diversos setores inclusive a iniciativa privada, tudo isso tem dificultado nosso trabalho no Congresso, porque quanto mais você fica discutindo só quem roubou o que de quem, você não avança nas políticas públicas para o povo brasileiro. Eu apresentei um projeto de lei que diz que todo aquele que se apropriar de bens públicos, via corrupção, enfim, todo corrupto tem que devolver em dobro tudo que roubou com juros e correção monetária. Ele tem que entender que ele, além de ter que devolver o que roubou, vai perder todo o seu capital porque vai devolver em dobro. Meu projeto existe, ele iria para a cadeia e devolveria em dobro o que roubou, se essa lei fosse aprovada. Folha: O senhor acredita que essa questão política tem contribuído para a crise econômica do país? Paim: Não tenho nenhuma dúvida. Nosso país é dinâmico, que tem tudo para dar certo, onde o povo é trabalhador, ordeiro, pode ver que nós não temos grandes conflitos que outras potências têm. Agora, a crise política, ela não deixa, ela trava, tranca o crescimento do país. É por isso que eu digo que tem que acabar de uma vez por todas com essa discussão fraticida de impeachment e não impeachment, botem isso de uma vez. E vamos tratar de pensar num país e não só na questão político-partidária e no debate ideológico. Folha: Muito tem se divulgado na imprensa que a saída do senhor do PT é dada como certa. Essa situação lhe incomoda ou realmente o senhor pretende sair do partido? Paim: Essa situação me incomoda. Eu fico constrangido de ter visto, por exemplo, o próprio governo que eu tanto defendi ter encaminhado uma série de medidas que vão contra os interesses dos trabalhadores, aposentados, pensionistas, do pescador e até dos desempregados com a questão do seguro-desemprego. Muito me incomoda que alguns projetos importantes que eu consegui aprovar no Congresso, com bandeiras da minha vida, como o estudo da desaposentadoria que permite você revisar o cálculo do benefício para mais, na verdade é uma revisão do benefício usando as contribuições depois que voltou a trabalhar. Como é que eu vou continuar defendendo o governo que veta os principais projetos que nós sempre defendemos ao longo de nossas vidas? Por isso que eu tenho dito: ou o governo muda, ou o PT muda, ou até o fim do ano eu deverei tomar uma posição. Se o PT não muda, terei que mudar e procurar caminhos onde eu possa continuar defendendo as causas dos trabalhadores, dos deficientes. Eu continuarei na vida pública, em outro caminho, como diz o poeta: o caminho a gente faz caminhando, onde as causas que eu sempre defendi, tenham espaço para estarem contempladas nas políticas públicas. Folha: O senhor já tem algum destino? Paim: Até o fim do ano, eu ter dado para mim mesmo, ou o PT muda, ou eu mudo, eu tenho conversado muito com o PSB, a Rede, o PV, o PDT, o PTB. São inúmeros os partidos, Partidos da Mulher, dos Aposentados, dos Servidores, são novos. Estou vindo nesse diálogo com mais de dez partidos e tentando encontrar qual é o melhor espaço para defender tudo aquilo que eu acredito, que são as causas do nosso povo. Folha: Como o senhor acha que será o desempenho do Partido dos Trabalhadores nas eleições municipais do ano que vem? Paim: Acho que vai ser difícil. O PT vai ter dificuldades em função do desgaste que se acumulou nos últimos tempos para as eleições municipais e também em 2018. Acredito, inclusive, que se a presidente Dilma até a metade do ano (de 2016) não conseguir se recuperar um pouco, ela vai contribuir muito para que o PT tenha um desempenho muito difícil nos próximos anos. Folha: O senhor acredita que o PT deve lançar candidato a prefeito em Caxias do Sul? Paim: Onde puder lançar, tendo espaço, ele deve apresentar seus candidatos. Onde for possível é natural, mas tudo tem que ser muito bem medido. Eu acho que em Caxias, por exemplo, o Pepe Vargas é um grande candidato. Crédito da foto: Waldemir Barreto/Agência Senado, Divulgação