A Comissão de
Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) realizou nesta terça-feira (12) uma audiência
pública para discutir os desafios do mundo do trabalho, como desemprego, aposentadoria
e discriminação, com foco na justiça fiscal. A iniciativa de realizar um ciclo
de debates sobre o tema é o senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da comissão.
A origem da dívida
pública brasileira foi um dos aspectos abordados pelos participantes. Para
Maria Lúcia Fattorelli, auditora aposentada da Receita Federal e coordenadora
Nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, a dívida pública não resulta de
financiamentos para a realização de obrigações do Estado, como se supõe, mas de
desvios de recursos públicos para o sistema financeiro.
Segundo a
especialista, a dívida pública é um sistema que visa manter privilégios
concedidos aos bancos, como juros elevados e cumulativos, além do uso abusivo
de mecanismos financeiros, como swap cambial, contrato para evitar o risco da
variação do dólar.
— Não há
transparência. Foi feito requerimento pela Câmara dos Deputados para saber quem
se beneficiou das centenas de bilhões de reais [dos contratos de swap cambial]
e responderam que é uma informação sigilosa. Se é uma operação pública, se está
sendo paga pelos cofres públicos e se salários dos servidores estão na
internet, por que os detentores de contratos de swap cambial não estão? —
indagou a auditora.
No debate, os
participantes também criticaram a Medida Provisória 739/2016 que faz alterações
no plano de benefícios da Previdência Social. A medida possibilita um pente
fino na concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez.
— Quem diz que o
aposentado está apto ao não para voltar ao trabalho? A medida provisória diz
que você tem que voltar a trabalhar após 120 dias. Não importa se a pessoa está
doente. O aposentado voltar a trabalhar, a empresa vê que ele está doente e não
te recebe de volta. No final, o aposentado ou pensionista fica sem nenhum salário.
Essa medida é um ataque aos direitos dos trabalhadores, aposentados e
pensionistas — explicou Paim.
O debate teve ainda
a participação de líderes sindicais, como Maria das Graças Costa, da Central
Única dos Trabalhadores (CUT), Pedro Armengol, da Confederação dos
Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), e Jucélia Vargas Vieira, da
Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal (Confetam).
Desigualdade social
Ao abordar as
dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores nos municípios, tanto no serviço
público como na iniciativa privada, Jucélia Vieira disse que o aumento das
desigualdades sociais em todo o país decorre de uma política de manutenção de
privilégios de instituições financeiras e grandes empresas.
— Não é possível
que as empresas que são implantadas nas nossas cidades suguem as nossas
riquezas e se utilizem dos paraísos fiscais para não pagarem impostos —
protestou a líder sindical.
No debate, Pedro
Armengol divulgou cartilha que trata dos riscos de perdas de direitos dos
trabalhadores, elaborada pela CUT Brasília. A senadora Fátima Bezerra (PT-RN),
com o apoio de Paulo Paim, sugeriu que a Frente Parlamentar em Defesa do
Trabalhador faça o lançamento da publicação.
Entre os direitos ameaçados, segundo Armengol, está a correção do salário mínimo. Conforme lembrou Paulo Paim, a regra de reajuste em vigor, que prevê o índice de inflação mais a taxa de crescimento do PIB, foi resultado de uma ampla articulação que envolveu todas as centrais sindicais, que agora estarão unidas em defesa da manutenção da norma.