A legislação trabalhista
é uma conquista e um avanço social. Podemos afirmar que há dois Brasis aí.
Aquele em que antes não havia férias nem descanso remunerado, não havia
salário-mínimo e muito menos licença-maternidade. As pessoas trabalhavam doze,
catorze, dezesseis horas por dia. Era comum encontrar crianças com oito, nove
anos em trabalhos forçados. Havia um processo em gestação que levaria a um
colapso social.
Com a promulgação de
novas leis a partir de 1931 e a chegada da CLT, em 1943, o país começou a mudar
de rumo nas suas relações de trabalho com a incorporação das necessidades dos
trabalhadores e de suas famílias. Surge o Ministério do Trabalho, a garantia da
carteira de trabalho, do salário-mínimo, da jornada de trabalho, entre outros
direitos.
A vida do país
prosseguiu. Tivemos períodos de abertura de indústrias, com incentivo às
empresas e grande geração de emprego e outros de inflação alta, recessão e
milhões de desempregados. Tivemos governos de exceção e desde 1989 elegemos o
presidente da República pelas urnas.
Em todas essas décadas
sempre que o país não apresentava níveis concretos de crescimento surgiram
tentativas de retirar direitos trabalhistas e sociais. Programas aplicavam a
tese de que a CLT é arcaica, ultrapassada, que a Previdência Social é
deficitária (Análise da ANFIP - Associação dos Auditores Fiscais da Receita -
prova o contrário), que não há caminho fora das privatizações.
Jorge Souto Maior - juiz
do Trabalho - disse em 2007, que “direito trabalhista não é custo para as
empresas” e que flexibilizar as relações de emprego diminui salários e não
aquece a economia. A legislação nunca foi um entrave ao desenvolvimento
econômico do país. Se isso fosse uma situação válida, “o país já teria um
desenvolvimento econômico invejável”.
Em 1974, veio a criação
do trabalho temporário. Dizia-se que era preciso diminuir os custos, para que
em determinadas épocas do ano as empresas pudessem contratar. Em 1988 surgiu a
lei do banco de hora. “O Brasil já fez
de tudo que poderia ser feito do ponto de vista da flexibilização. Além disso,
a economia não cresceu”.
Agora, com “Uma ponte
para o futuro”, do presidente Michel Temer, e sua proposta de reformas trabalhista
e previdenciária, volta à baila a terceirização da atividade-fim, o negociado
acima do legislado, o aumento da jornada de trabalho das atuais 8 horas diárias
para 12 horas, a redução do horário de almoço do trabalhador de 1 hora para 15
minutos, a aposentadoria aos 65 anos, ou seja, a desregulamentação das relações
do trabalho. Estaremos voltando ao início do século 20?
O governo chama de
“modernização”. Mas, alto lá, como assim? Vejamos a proposta do negociado acima
do legislado. Ela nada mais é do que a possibilidade de uma convenção ou um
acordo coletivo de trabalho de categorias econômicas e profissionais prevalecer
sobre a lei vigente. Ou seja, tudo que está garantido na legislação poderá ser
rejeitado pelo lado mais forte – pelo fogo do dragão. Optar por essa proposta é negar o desemprego,
o trabalho escravo e infantil, os baixos salários, as péssimas condições de
segurança e as discriminações que ainda existem em muito no país.
A nossa legislação,
queiram ou não, ainda garante padrões mínimos para uma vida digna às pessoas.
Ela sensibiliza e humaniza a relação capital e trabalho. Flexibilizar o que foi
conquistado não é sinônimo de modernização e muito menos de crescimento
econômico.
O país só vai crescer e
se modernizar a partir de um novo pacto federativo, uma ampla reforma
tributária, taxa de juros que estimule o mercado sem empobrecer a população,
valorização do salário-mínimo, salário descente para aposentados e
pensionistas, poupança interna, combate à sonegação de impostos, que hoje chega
a R$ 400 bilhões por ano, penalização de corruptos e corruptores, entre outros
meios, que harmonize e gere um comprometimento entre os setores público e
privado.