Se aprovada, a proposta de emenda à Constituição (PEC) que fixa
teto para gastos públicos por 20 anos resultará na “canibalização” dos recursos
da Previdência Social, conforme especialistas ouvidos nesta segunda-feira (21)
em audiência pública conjunta das Comissões de Direitos Humanos e Legislação
Participativa (CDH) e de Assuntos Econômicos (CAE).
Os presidentes da CDH, Paulo Paim (PT-RS), e da
CAE, Gleisi Hoffmann (PT-PR), disseram que as audiências públicas realizadas
pelas comissões do Senado ajudam a esclarecer a população sobre os prejuízos
que podem causar as medidas contidas na PEC do Teto de Gastos.
Paim alertou ainda que o
envelhecimento da população e o consequente aumento do número de habitantes
exigirão do país mais investimentos.
— Conforme a expectativa de vida
divulgada pelo IBGE, daqui a 15, 20 anos nós seremos em torno de 230 milhões de
habitantes. Como é que vamos usar o mesmo orçamento de hoje? Claro, se você só
desconta a inflação, você vai ter que usar o mesmo valor real de hoje para
230 milhões de brasileiros. Hoje, somos em torno de 210 milhões. É uma conta,
como eu digo, que não fecha — ponderou.
A
opinião foi compartilhada por Floriano Martins de Sá Neto, vice-presidente da
Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip), e João
Marcos de Souza, presidente da Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital
(Fenafisco).
– E
evidente que, quando houver a aprovação dessa PEC, um dos pontos que será mais
atacado será a Previdência, é aí que o governo vai atacar, porque é daí que ele
vai dizer que precisa tirar dinheiro para as outras áreas – afirmou Souza.
Estratégia
A PEC 55/2016 não trata diretamente de Previdência
Social, lembra Guilherme Delgado, mas se insere em estratégia adotada pela
equipe de Michel Temer de “cerco e aniquilamento” que aponta como única saída o
corte de gastos previdenciários.
– Anunciadamente, e em satisfação aos interesses
que estão sendo protegidos pela PEC, se diz que virá em seguida a reforma da
Previdência, que iria limitar os gastos previdenciários – salientou.
Isso seria feito, como
exemplificou, pela retirada da vinculação ao salário mínimo, transferindo ao
ministro da Fazenda a atribuição de definir, por portaria, o piso
previdenciário do ano. Dessa forma, diz João Marcos de Souza, as perdas
afetariam tanto o trabalhador do setor privado quanto do setor público.
– O trabalhador da iniciativa
privada às vezes aplaude [a PEC 55/2016] dizendo que vai atingir apenas o
servidor público. Ledo engano! Vai atingir a todos. É uma proposta de
desvinculação do salário mínimo para aposentadorias e pensões. É o retorno à
aposentadoria miserável que já tivemos no passado – alertou o dirigente da
Fenafisco.
Os aposentados estão preocupados, como afirmou
Gilson Matos, diretor da Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas.
Assim como Saulo Arcangeli, da Central Sindical e Popular, Matos criticou a
extinção do Ministério da Previdência Social e a transferência da gestão do
sistema previdenciário para o Ministério da Fazenda.
Os participantes da audiência
pública cobraram do governo medidas para aumentar a receita, como o combate a
sonegadores e a taxação de grandes fortunas. Maria Lúcia Fatorelli,
coordenadora da entidade Auditoria Cidadã da Dívida Pública, considerou a
proposta de teto de gastos públicos inconstitucional, por retirar direitos
sociais e por incluir privilégios ao setor financeiro.
– O Senado está surdo a denúncias?
O que está por trás dessa PEC é a garantia, no texto constitucional, sem teto,
sem limite, sem controle algum, de recursos com liberdade total para juros da
chamada dívida pública, que nunca foi auditada como manda a Constituição, e
para empresas estatais não dependentes. Um esquema fraudulento está entrando no
Brasil – alertou.
Como informou, 42% do gasto do
governo federal são destinados ao pagamento de juros e amortização da dívida
pública.
Agência Senado (Reprodução
autorizada mediante citação da Agência Senado)