“Os recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)
são do trabalhador, e não do governo. Precisam, portanto, ser geridos de forma
a garantir mais remuneração a seus verdadeiros donos”. Foi o que defendeu o
presidente do Instituto Fundo Devido ao Trabalhador (IFDT), Mario Avelino, em
audiência pública da Comissão de Direitos Humanos (CDH), nesta segunda-feira
(28), para debater a gestão do FGTS, que completou 50 anos.
Criado em 1966, no governo Castelo Branco, o Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço conta com quase 40 milhões de contas ativas em
nome de trabalhadores com carteira assinada. Durante reunião na CDH, sindicalistas
defenderam medidas para aumentar a remuneração e evitar fraudes no sistema.
Também criticaram a possibilidade de o Fundo ser administrado por bancos
privados. O presidente do colegiado, senador Paulo Paim (PT/RS), se manifestou
contra mudanças para retirar direitos dos trabalhadores.
– Precarizar o FGTS é um dos alvos da reforma que está aí.
Eles vão querer abrir caminho para diminuir os direitos dos trabalhadores,
inclusive, extinguindo o pagamento de 10% do FGTS em caso de demissão sem justa
causa. Essas mudanças no FGTS levarão a outras, como, o fim do piso salarial,
férias e 13º salário – afirmou Paim.
Apesar dos recursos expressivos do FGTS, cerca de R$ 500
bilhões, o presidente do IFDT explicou que, foram muitas as perdas impostas ao
trabalhador ao longo das décadas graças a alterações legislativas que
diminuíram a remuneração. Entre elas, a modificação dos juros progressivos
aplicados ao saldo; a troca da correção monetária, pela inflação, por apenas
uma atualização monetária e a criação da taxa referencial (TR); a redução dos
juros e multas pagos pelos empregadores em caso de atraso do pagamento; e a
diminuição da prescrição das ações trabalhistas de 30 anos para cinco.
Ainda de acordo com o dirigente, o FGTS poderia hoje contar
com R$ 800 bilhões em recursos, disponíveis para investimentos em obras para
melhorar o saneamento e, consequentemente, a saúde da população. Por isso, ele
defendeu a aprovação do PLS 581/2007,
do senador Paulo Paim, que resgata várias das diretrizes da Lei 5.107/1966, por
meio da qual foi criado o fundo, descaracterizada ao longo dos anos.
Positivo
Tanto Bolivar Tarragó, do Conselho Curador do FGTS, quanto Henrique
Santana, superintendente nacional do fundo, defenderam o FGTS como importante
para a economia e a sociedade. Ambos frisaram que a administração dos recursos
é compartilhada, supervisionada, auditada e com diretrizes determinadas pelo
conselho curador, que tem representantes do governo, de empregados e de
patrões. Todos os anos são aplicados cerca de R$ 55 bilhões em habitação.
— De cada dez casas construídas, oito são com recursos do
fundo, 88% dos imóveis são lastreado com recursos do FGTS — disse Henrique
Santana.
Vários dirigentes e integrantes de sindicatos e confederações
também participaram da audiência pública. Todos deixaram registrado que a PEC
55/2016, do teto de gastos, pode vir a afetar ainda mais os direitos do
trabalhador. A limitação de recursos vai tornar mais difícil, por exemplo, a
fiscalização feita pelos auditores do trabalho, que lutam contra a
informalidade e a irregularidade nos contratos.
— A robustez do fundo depende do emprego, em risco com a
situação de crise econômica que vivemos, sem investimento na produção, mas sem
limite para os bancos. Se a gente não acelera a economia, tudo vai arrecadar
menos, e o fundo de garantia vai estar cada vez mais precarizado — lamentou
Gláucia Morelli, presidente Confederação das Mulheres do Brasil.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da
Agência Senado)