Emenda que desmembra instituição voltada à América Latina foi criticada em debate que revelou o risco de as universidades entrarem em colapso devido a cortes no orçamento
Uma emenda do deputado Sergio Souza (PMDB-PR) à medida provisória que reformula o Fundo de Financiamento Estudantil para o ensino superior (Fies), pode
acabar com a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), denunciaram participantes de uma audiência ontem na Comissão de Direitos Humanos (CDH).
A emenda do deputado desmembra a Unila, sediada em Foz do Iguaçu (PR), transformando-a em Universidade Federal do Oeste do Paraná (UFOPR), o que foge à ideia
original de integração latino-americana proposta em seu projeto original. Em sua justificativa, Sergio Souza afirma que a criação da UFOPR é fator essencial para
o desenvolvimento da região e que, neste momento, a Unila “funciona aquém do potencial para o qual foi concebida.”
Segundo o reitor da Unila, Gustavo Oliveira Vieira, o parlamentar não discutiu a proposta com a comunidade acadêmica e nem com a população local. A Unila foi criada em 2010, no segundo mandato do presidente Lula, e tem no seu projeto original o propósito de promover uma “nova geopolítica do conhecimento” sob a perspectiva latino-americana, integrando os países da região por meio do ensino, da pesquisa
e da extensão.
Para isso, a universidade destina metade de suas vagas a brasileiros e as demais a estrangeiros. Hoje, a Unila conta com 3.500 alunos do Brasil e dos outros 19 países da América Latina, em 22 cursos de bacharelado, em áreas de interesse comum, sempre com foco para o intercâmbio cultural e o desenvolvimento e integração regionais.
Corte de verbas
Além da ameaça de extinção por meio da emenda, a Unila e outras universidades públicas correm o risco de entrar em colapso em razão dos contingenciamentos
do orçamento para a educação, segundo Edson Borges, pró-reitor de relações Institucionais da Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).
Auxílio
De acordo com ele, a instituição está sem verbas para dar auxílios a estudantes estrangeiros, principalmente de países africanos de língua portuguesa.
— Fazer a cooperação com esses países é fundamental. O custo que essas universidades têm não deve ser avaliado apenas pelo custo em dinheiro, mas como um valor estratégico
para o Brasil na geografia do conhecimento.
Para o presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), Eblin Joseph Farage, todas as universidades e institutos federais estão sofrendo
com a falta de verbas.
Representantes do Ministério da Educação admitiram que a pasta enfrenta um grande desafio ao ter que lidar com menos dinheiro, mas tem se esforçado para garantir o funcionamento
adequado das universidades.
Execução
— Temos que equacionar em alguns momentos algo que se deseja e que nem sempre é possível com o orçamento que é posto. Tentamos chegar ao melhor denominador do que
é possível — disse Geraldo de Oliveira, diretor de Articulação e Expansão de Educação Profissional e Tecnológica do ministério.
O diretor da Rede de Instituições Federais de Ensino Superior do Ministério da Educação, Mauro Rabelo, disse que a pasta tem buscado garantir a execução total do orçamento.
— O ministro Mendonça Filho é um defensor das universidades públicas. Temos trabalhado para garantir as condições de funcionamento das universidades — sustentou.
Segundo a senadora Fátima Bezerra (PT-RN), o discurso do governo não condiz com a realidade. Ela relatou casos de universidades que não têm dinheiro para pagar bolsas e mesmo as contas de energia
e água:
— As universidades e institutos federais estão em situação de penúria — criticou