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25.Setembro
Estatuto do Idoso e o déficit de atenção - Jornal do Comércio

OpiniãoPleno de boas intenções, como de resto são todas as leis e diplomas legais que visam o bem comum, o Estatuto do Idoso, assim como o Estatuto da Criança e do Adolescente, é mais um calhamaço que levará tempo para ascender do papel e chegar na realidade cotidiana das pessoas, neste imenso Brasil tão bonito quanto díspare em culturas, riquezas e sabedorias. Cuidar da criança e do idoso é fundamental, pois os adultos estarão zelando e retribuindo pelo seu passado e seu futuro, simultaneamente. Na criança, moldamos o futuro homem ou mulher provedor que, com exemplos e os ensinamentos recebidos, fará o melhor para, um dia, também receber a atenção merecida, quando lhe faltarem forças para o labor diário, cumprindo-se a lei inexorável da vida, pela qual nascemos, vivemos, envelhecemos e morremos. Porém, cuidar dos idosos é, antes de tudo, tarefa familiar que deve estar presente em cultivados hábitos saudáveis de pais, mães, filhos e nos próprios avós. Os laços de sangue sobrepondo-se no zelo de uns com os outros. Como decorrência, aí sim, virão ações positivas em favor dos idosos, acabando com o déficit de atenção que eles sofrem. Por decreto, ninguém será bonzinho com os idosos. Nem com o pai, a mãe e os irmãos. São 14,5 milhões com mais de 60 anos, portanto, nada contra o Estatuto do Idoso, afinal, as boas intenções e as leis não morrem pela idade, pois as mudanças as remoçam, como agora. O maior trabalho nos lares é tolerar aqueles que são importunos, por diversos motivos, começando pelas crianças, passando pelos adolescentes e chegando aos veteranos. Mas, o Estatuto é outra abstração personalizada, uma das causas de tantos erros neste País.Como a utopia do fim dos manicômios, quem não lida com a infância abandonada, a demência e a velhice sublima atitudes, idealizando posturas e as colocando em leis, esquecendo que as leis têm de ser cumpridas, têm de “pegar”, e que o esteio da sociedade são famílias estruturadas. Os meninos e meninas de rua estão lá não porque desejam, mas sim mandados ou abandonados pelos pais, para arrecadar trocados, presas fáceis das más companhias, dos vícios. Daí vem a revolta, a frustração, o desespero e a senda do crime torna-se o caminho inevitável. Mais do que serviços públicos compensatórios, se não tivéssemos tantos casais desfazendo lares onde a miséria impera, por certo que menos seriam as crianças perambulando nas sinaleiras das cidades. Leis para a criança, quando a gravidez precoce de meninas pobres entre 12/16 anos é maioria entre os partos do SUS? Estatutos disso e daquilo é uma forma linda de tentar impor uma condição que depende, em primeiríssimo lugar, de exemplos e da cultura que vivenciamos por décadas, permeados de uma dose de hipocrisia. O problema não é ter filhos, mas criá-los decentemente.Nossos bisavós diziam, “filhos criados, trabalhos dobrados”, lembrando que um nenê quase não dá trabalho ou despesa, mas ocupa uma pessoa. O adolescente ocupa e preocupa muito mais. O demente exige cuidados e, em algumas doenças, é descontrolado, caso dos esquizofrênicos, cujos surtos precisam acompanhamento especializado e medicação constante. Os idosos com renda própria e tendo filhos bem formatados em princípios religiosos, educacionais e responsabilidade, não serão como trastes velhos, relegados, embora a triste cena de certas casas geriátricas, depósitos de seres humanos alienados. A velhice é uma decadência progressiva, cujo limite é a morte. Por isso devemos viver de maneira que, ao morrer, não nos lastimemos de haver vivido. Enfim, salve o Estatuto do Idoso, mais um para ver se a pena do legislador consegue suprir o déficit de afeto em tantos lares e nos espaços públicos brasileiros.