O Dia Nacional da Consciência Negra, instituído pela Lei 12.519/2011, também é denominado Dia Nacional de Zumbi, por ser a data de morte do líder negro Zumbi dos Palmares, em 20 de novembro de 1695. Para celebrar a data dedicada à reflexão da inserção do negro na sociedade brasileira, foram ouvidas duas servidoras que são militantes do movimento negro.
Maria Isabel Sales é servidora do Gabinete do Senador Paulo Paim desde 2008 e acredita ser importante fazer algo ligado à questão dos negros por meio de seu trabalho. Paulistana, desde a adolescência ela se voltou para o trabalho na comunidade em que morava. No Parque Bristol, uma região sem infraestrutura adequada e com altos índices de criminalidade, ela dava aulas de catecismo.
Após iniciar a faculdade de economia, Maria Isabel teve dificuldades de pagar os estudos, mas conseguiu uma bolsa da Educafro — Educação e Cidadania de Afrodescendentes, associação sem fins lucrativos que promove a inclusão social de negros e pessoas carentes. Ela conta que, na tentativa de buscar a bolsa, conheceu os trabalhos desenvolvidos na sede da entidade, em São Paulo, e logo começou a participar.
— Desde 2005, eu me tornei militante na Educafro, que é presidida pelo frei David Santos. A organização também trabalha a questão da transversalidade das ações para inserção dos negros no mercado de trabalho. Na ONG, conheci inclusive aquele que veio a se tornar meu marido, também um militante — relata a servidora.
Ao vir para Brasília trabalhar com o senador Paulo Paim, Maria Isabel formou-se em direito e atualmente faz uma especialização em processo legislativo, mas ela ainda pensa em concluir o curso de economia. No gabinete, dedicou-se às questões ligadas à aprovação do Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/2010) e passou oito anos trabalhando com orçamento, área que ela considera ser um instrumento de transformação efetiva para a inclusão de afrodescendentes, ao direcionar recursos para ações inclusivas.
— Somos uma população que, mesmo após 129 anos de abolição da escravatura, permanece com seus direitos excluídos. Eu acredito que cotas e políticas voltadas para os negros são um caminho para mudar a situação, assim como a educação, que vai esclarecer a sociedade sobre a importância da diversidade — defendeu.
Para Liv de Lara, servidora do Gabinete da Senadora Regina Sousa, a militância começou ainda na infância, sob influência da mãe, que participava de movimentos sociais. No Senado desde 2013, quando ainda fazia parte da equipe do então senador Wellington Dias, ela conta ter participado logo no início da adolescência do Grupo Coisa de Nêgo, em Teresina (PI). Dedicado a oficinas e cursos de formação e capacitação, o centro afrocultural investe em atividades artísticas, de estética negra e seminários sobre temas como história e cultura da África, além do planejamento e gerenciamento de negócios.
— Eu me envolvi com questões da cultura negra, dança, vestimentas, a aceitação do cabelo com as oficinas de tranças e o empoderamento — detalhou Liv.
Já adulta, a servidora se voltou para os debates que envolviam a questão das mulheres e dos negros, sobretudo as dificuldades enfrentadas na sociedade pela mulher negra, vítima de estigmas em várias áreas, como o mercado de trabalho, conforme salientou. A pauta sobre direitos humanos é também alvo de atenção para Liv de Lara, que comemora a presença de Regina Sousa como senadora negra.
— Sou assessora direta da senadora, a quem acompanho na presidência da Comissão de Direitos Humanos e também como titular na de Assuntos Sociais — afirmou a servidora, que é formada em gestão pública e atua também como aromaterapeuta e na área de cosmética natural.
No Senado
No último recadastramento, dos 6.033 servidores efetivos e comissionados no Senado, 271 se autodeclararam negros. Entre os cargos de chefia ocupados por efetivos negros, são 19 servidores: um assessor jurídico, 2 chefes de gabinete e um subchefe, 11 chefes de serviço, 2 coordenadores, um secretário de comissão e um com função comissionada. Desses, cinco cargos são ocupados por mulheres negras.
O Senado tem 2.812 funcionários correspondentes a 25 contratos de terceirização. Desse total, 1.574 (56%) se autodeclaram negros.
Agência Senado