Um dos poucos reeleitos, Paulo Paim diz que foi por meio do trabalho
Gabriel Hirabahasi
14/10/2018 - 10:49 / 14/10/2018 - 15:59
Dos oito senadores que conseguiram a reeleição neste ano, Paulo Paim (PT-RS) é um dos que estão no Congresso há mais tempo: foi deputado federal de 1987 a 2003, quando assumiu cadeira no Senado que ocupa até hoje. Ele diz que o debate eleitoral atualmente não passa por uma discussão ideológica entre esquerda e direita, mas sim sobre propostas que afetam a vida das pessoas.
“O povo quer ver quem trabalha para eles, não para si ou para o partido”. Ele afirma que todos os partidos, incluindo o PT, precisam fazer uma autocrítica com base no resultado eleitoral deste ano e diz que Jair Bolsonaro teve um bom desempenho nas urnas porque não se identificou com nenhum partido e se apresentou como o “novo”, apesar de estar há uma longa temporada na Câmara dos Deputados. A seguir, trechos da entrevista com o senador Paulo Paim:
Por que tão poucos senadores conseguiram a reeleição?
Tem que entender o recado das urnas, por mais que haja um debate ideológico. O povo brasileiro deu um recado: não quer mais saber dessa chamada política tradicional e profissional. Quer saber de homens públicos que defendam causas que repercutam na qualidade da vida dele. Isso pegou todos os partidos, não é para um ou para outro. Pegou todos. Os partidos têm de se reciclar. O povo se encheu dessa forma de se fazer política. O que o candidato que está em primeiro lugar (Jair Bolsonaro) representou neste momento? Ele bateu nessa forma de fazer política. Ele não se identificou com nenhum partido político. O povo não sabe o partido dele. Sabe o número e o nome dele.
E como foi sua campanha?
Eu falei sobre o que eu fiz. Falei do estatuto do idoso, questões de igualdade racial, da juventude, política de salário mínimo, lei de autistas, de vigilantes, carteiros. São apenas alguns exemplos. Foram mais de mil projetos apresentados, dezenas que são leis. Fui eleito parlamentar mais presente. Eu mostrei que eu trabalho. Faço em média 150 audiências na comissão de Direitos Humanos, quando a média dos parlamentares é de 50. O povo quer ver quem trabalha para eles, não para si ou para o partido. Essa foi a forma que atuei. E deu certo. Mesmo com a avalanche Bolsonaro, que atingiu todo o Sul.
Os dois candidatos ao governo do Rio Grande do Sul que foram ao segundo turno declararam apoio a Bolsonaro. Ana Amélia, vice de Geraldo Alckmin, também.
E o outro senador eleito (Luiz Carlos Heinze, do PP) também. Quando ele abriu o voto dele, decolou nas pesquisas. Ele pegou a onda Bolsonaro.
A Câmara já tinha uma grande fragmentação. Agora, o Senado aumentou a fragmentação partidária também. Vai piorar a relação com o próximo governo?
Já dizia Ulysses Guimarães: quando você acha que o Congresso é ruim, pode se preparar que o próximo vai piorar. Nos 32 anos que estou aqui no Congresso foi assim. O próximo será um Congresso mais conservador. Estou muito preocupado com os direitos dos trabalhadores. O Congresso tende a entrar nas questões que ferem os direitos das pessoas.
O senhor acha que independe do presidente eleito?
Com certeza. Esse Congresso dificultará a vida das pessoas. Claro que o presidente eleito pode ajudar ou dificultar. Acredito que Fernando Haddad, candidato petista, tem uma linha humanitária e pode nos ajudar. Agora, esse Congresso é conservador. Vai criar dificuldades às minorias representativas. Passaremos momentos difíceis nos próximos anos.
O PT teve casos de dois candidatos ao Senado, a ex-presidente Dilma Rousseff e Eduardo Suplicy, que eram favoritos e acabaram não eleitos. Por que o senhor acha que isso aconteceu?
Os dois foram engolidos pela “tsunami Bolsonaro”. A onda que os aliados de Bolsonaro) venderam era a de não votar no 13 (número do PT). Eu andei em portas de fábricas, olhava olho no olho e sentia que as pessoas já tinham decidido o voto contra mim. Os que ainda eram favoráveis diziam que só fariam isso pelo meu trabalho. Foi a onda anti-PT.
Qual vai ser o impacto para o PT da diminuição da bancada, ainda mais depois de Dilma e Suplicy não terem conseguido a eleição?
No bom combate tem que estar preparado para a vitória e para a derrota. O PT teve tantas derrotas ao longo da vida e tantas vitórias. Analisando o quadro nacional, o PT foi um dos partidos que menos perderam. Teremos a maior bancada na Câmara e a quarta maior no Senado. Se analisar friamente, todos os partidos perderam, por causa dessa onda anti-partidária. Fomos ao segundo turno na eleição presidencial. Espero que haja debate. E não falo nem em causa própria, pelo meu candidato, que é o Haddad. Acho que pelo bem do país seria muito bom que houvesse debate para cada um explicitar o que quer para a nação.
Na sua opinião, como o PT pode virar uma eleição como essa?
Dando a minha experiência: só ganha a eleição se não ficar só se defendendo ou atacando. Tem que ser propositivo. Tem que ser ficha limpa, ter uma visão de nação e mostrar o que fazia antes da eleição. Tem que ter um currículo que garante o orgulho da história. Não ficaria nem só na defesa das acusações e nem só no ataque ao outro candidato.
Mesmo nesse contexto em que notícias falsas têm sido divulgadas pelas redes sociais?
Ser propositiva é uma coisa. Mostrar o país que quer. Mas quando parte para a desonestidade, mentira e falcatrua... O Tribunal Superior Eleitoral deveria agir. Não pode fazer uma disputa eleitoral virar uma barbárie. O TSE tem que entrar e dizer: isso não pode. Punir o partido, retirar tempo de TV e espaço nas redes sociais.
O PSL, no caso?
Não sei se é o PSL. Tem que ver quem é que prolifera essas fake news. O direito termina quando começa o direito do outro. Não posso sair chamando o camarada de tudo o que imaginar e ficar tudo bem. Nós devíamos ter nos preparado mais para isso. A pessoa se esconde num computador e chama os outros de tudo.
O PT consolidou o Nordeste como um reduto eleitoral nestas eleições. Quais as diferenças eleitorais para o partido no Sul e no Nordeste?
Acho que todos são brasileiros. Dizem que o Rio Grande do Sul é o estado mais preconceituoso, mas elegeu o primeiro presidente de assembleia negro, que foi Carlos Santos. Elegeu o primeiro governador negro, que foi Alceu Colares. E é o único estado no Brasil que elegeu pela terceira vez um senador negro (Paim). Mas tem que entender que no Nordeste os programas sociais de Lula e Dilma atenderam a essa população mais pobre. Eu quero um governo que atenda a todos. Política eu acho que tem que se fazer a todos, aos mais pobres e aos mais ricos. Os governos do PT tiveram um olhar para aqueles que mais precisaram, que estão no Nordeste atualmente. Eles olham como era antes e como é hoje.
Como o senhor enxerga o momento do PSDB e uma possível nova polarização do PT com Jair Bolsonaro e o PSL?
Não é com o partido. Como é o nome? PSL? 90% da população não sabem qual é o partido. A polarização não foi do PT com o PSL. Foi com aquele que negou a política (Jair Bolsonaro). Ele vendeu a ideia ao povo que os políticos não prestam, que ele é o novo. Mas ele tem quase o mesmo tempo de Casa que eu (Paim é senador desde 2003 e antes, de 1897 a 2003, foi deputado federal). Isso foi o que pegou. O povo não quer forma tradicional de fazer política, que o PSDB representa. Nós (políticos tradicionais) precisamos fazer uma reavaliação e nos reciclarmos como partidos. O legado que podemos deixar ao país e à sociedade é ajudar a construir uma outra geração que faça política de forma diferente.
Mas Bolsonaro tomou o papel que foi do PSDB nas últimas eleições, como o candidato anti-PT. Mas o impacto foi com todos os partidos. Foi uma eleição também anti-partido. Colou. No meu caso, eu vinha nas pesquisas em primeiro lugar com José Fogaça (MDB-RS). E quem tinha mais rejeição? Nós dois. Os mais conhecidos são os mais rejeitados. Quem são os mais conhecidos no Brasil? PSDB, PT, MDB, Democratas, PP. As pessoas quiseram votar em algo diferente.
Os partidos precisam fazer uma autocrítica?
Sim. Diria para ti que a população não quer saber de debate ideológico. Quer saber quem vai fazer ações governamentais que melhore a vida.
E o PT, também precisa fazer essa autocrítica?
Vale para todos. Precisa reavaliar a forma de se fazer política.
REVISTA ÉPOCA