Chama ainda a atenção, na relação das reportagens mais lidas da Agência Senado, a colocação secundária de temas que, do ponto de vista jornalístico, são consideradas mais relevantes do que outros. A matéria que trata da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial (("Senado aprova Estatuto da Igualdade Racial, mas retira cotas para negros nas escolas"), que teoricamente deveria despertar o interesse de grande parte da população, vem num longínquo 95º lugar, com exatos 2.700 acessos. Para o senador Paulo Paim (PT-RS), autor do projeto do Estatuto da Igualdade, o baixo acesso nessa reportagem reflete a desigualdade econômica e racial brasileira. Leia mais -------------------------------------------------------------------------------- Matérias mais lidas entre outubro de 2009 e agosto de 2010 -------------------------------------------------------------------------------- Matérias mais lidas da Agência Senado refletem interesses de grupos organizados -------------------------------------------------------------------------------- Reproduções de matérias da Agência em outros sites multiplicam leitura -------------------------------------------------------------------------------- Lista de matérias mais lidas está disponível na página da Agência Senado _ Quem é o setor mais pobre da sociedade? São os negros. São os que têm menos acesso ao computador, ao telefone. Quem é que tem menos tempo para entrar na página? São eles, os maiores interessados - afirma o senador. Outra reportagem que supostamente deveria aparecer entre os primeiros lugares por tratar das novas regras para a eleição ("Eleições de outubro terão novas regras e internet") somente aparece em 189º lugar, com 2.078 acessos. Uma exceção a essa regra poderia ser a matéria sobre a aprovação do projeto de lei da Ficha Limpa, publicada em 19 de maio, e que ficou em 11º lugar, com 6.759 acessos. Ocorre que o título incluía também a aprovação do reajuste dos aposentados, o que torna impossível saber quantos leitores acessaram a matéria para saber especificamente da mudança histórica nas regras eleitorais. Corporações O consultor legislativo do Senado Gilberto Guerzoni alerta para o fato de que o número de acessos às reportagens publicadas pela Agência Senado não serve para mapear o interesse público, ou o interesse da sociedade. _ O que se mapeia é o interesse das corporações - afirma. A diretora da Secretaria de Pesquisa e Opinião (Sepop) do Senado, Ana Lucia Romero Novelli, tem opinião semelhante. Para ela, como o ranking da Agência Senado revela, em sua maior parte, a opinião dos grupos organizados, essa opinião não é coincidente com a do restante da sociedade. _ Não se pode generalizar a opinião que vem desse grupo para a sociedade como um todo - avalia a diretora. A predominância dos grupos organizados talvez possa explicar por que a reportagem sobre a aprovação do plano de carreira do Senado aparece em 111º lugar, num universo de 8.040 matérias, com 2.553 acessos, embora alcance um grupo extremamente restrito. Isto significa que a matéria está no grupo das 1,38% mais lidas. Maioria silenciosa Gilberto Guerzoni vai além: _ A maioria silenciosa não tem relações com o Parlamento. O cidadão dificilmente usa os meios de comunicação do Senado Federal para se informar - reconhece o consultor, indicando que as páginas institucionais, de uma maneira geral, são bem mais acessadas por participantes de grupos organizados. Essa falta de relação entre o povo e o Congresso se agrava, diz o consultor, em experiências de democracia direta. Cita, como exemplo, o orçamento participativo, uma iniciativa que visa envolver a sociedade na destinação do dinheiro público, mas acaba, na prática, segundo ele, trazendo apenas participações de militantes ligados a algum movimento corporativo. O senador Paim acrescenta que, além da falta de interação dessa maioria silenciosa com o parlamento, poucos congressistas se dedicam a olhar para ela. _ Digo isso com tranquilidade, porque eu tenho projeto para os sem-terra, para os sem-teto, para os catadores de rua. Esses não têm a força do lobby organizado, por isso têm mais dificuldade - afirma o senador. Para Paim, "a população não acredita na política, não acredita nos políticos". Ele também questiona a capacidade cognitiva da maioria. _ Vejo políticos dizerem: vou me eleger para fazer o pacto federativo. A população vai entender o que é pacto federativo? Se você pegar aqui a maioria dos deputados e senadores, nem eles vão saber o que é isso. Outros dizem: quero me eleger para fazer a reforma política. A população está dando bulhufas para a reforma política - disse o senador. Paulo Paim lamentou que a mídia não se empenhe, no entender dele, em informar a população. Segundo o parlamentar, uma pesquisa feita por ele no sul do país indicou que 90% da população não sabem que é ele o autor de matérias importantes como o Estatuto do Idoso e o Estatuto da Igualdade Racial e das políticas para o deficiente e o salário mínimo. _ Não há interesse por parte da grande força de comunicação do país que esses temas sejam popularizados; que as pessoas saibam quem é quem, quem defende o que aqui dentro; quem defende os banqueiros, o poder econômico e quem defende as classes mais marginalizadas - protestou. Curiosidades A primeira reportagem de interesse geral no ranking da Agência Senado que não atende a grupos organizados em defesa de interesses próprios vem em 15º lugar, ("Para Demostenes, PEC do Divórcio extingue processos de separação judicial em exame"), com 5.856 acessos. Entre as 20 matérias mais acessadas, oito (40%) são relativas a enquetes veiculadas na página do Senado, o que reforça o caráter interativo da internet e a demanda por participação e interatividade dos usuários. As três primeiras colocadas no ranking têm quase o mesmo número de acessos (102.531) que as 12 seguintes somadas. O pronunciamento mais bem colocado no ranking foi do senador Mão Santa (PSC-PI), em 41º lugar, com 3.917 acessos, embora tratando de um tema relativo a um grupo de interesse ("Mão Santa defende derrubada do veto ao fim do fator previdenciário"). O pronunciamento pessoal mais bem colocado vem logo a seguir, com 3.915 acessos ("Vinte anos depois do Plano Collor, ex-presidente pede desculpas à população pelo bloqueio do dinheiro"). Logo depois, com 3.887 cliques, está a homenagem que o senador Valter Pereira fez ao líder budista Daisaku Ikeda - embora o assunto também seja próprio de um grupo de interesse.embora o assunto também seja próprio de um grupo de interesse. Fonte: Agência Senado