*Senador
Paulo Paim
Quantas
tragédias serão necessárias para entendermos que falar com o coração é o grande
segredo da vida. Como poderá haver bem-estar social e felicidade se não há compaixão
entre as pessoas, se cada vez mais as pessoas só pensam em si? A solidariedade
não pode ser momentânea e seletiva. Ela deve ser permanente. Afinal, somos
todos irmãos. O verbo amar não é conjugado sozinho. É preciso gente e calor
humano. Será que não compreendemos ainda que a nossa relação com a Terra é de
reciprocidade? Quando derrubamos uma árvore e calamos o canto dos pássaros
estamos matando a nós próprios. Perdemos, assim, com essa maneira egoísta de
viver, a conexão espiritual com o Universo e nos tornamos insignificantes na
nossa própria existência.
Fome,
miséria, desigualdade social, mortes, guerras, desastres ambientais, doenças,
surtos, pandemias, estupros, discriminações, racismo, ódio e violência.
Crianças morrendo até mesmo antes de nascerem; jovens sendo sacrificados no
jogo das drogas e do tráfico; idosos praticamente assassinados por falta de
assistência. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância
(UNICEF), a cada quatro segundos uma pessoa morre de fome no mundo. Gente que não
tem o que comer, nem o que beber: verdadeiros cadáveres vivos, cheios de
feridas, como lixo humano. Ora, tudo
isso são os homens que causam. Tudo por conta do poder e da ganância, da
selvageria das bolsas, dos gráficos, dos números e dos cifrões. E o poder
corrompe, embriaga, satisfaz o ego e os delírios daqueles que possuem olhos
desumanos.
O
mundo está assustado com o Covid 19 - Coronavírus. É uma tragédia que mostra
claramente a nossa fragilidade. Há uma energia negativa no planeta das mais
cruéis. São milhares de casos em centenas de países: China, Itália, Estados
Unidos, Portugal, Espanha, Inglaterra. Agora o vírus está adentrado o
continente africano. Na América latina é uma realidade. No Brasil, o ministério
da saúde confirma centenas de casos; há mortes. Aqui abro um parêntese: as cenas
vistas nos meios de comunicação são reais e escancaram o egoísmo humano. As
pessoas falsificando álcool em gel, estocando máscaras de higiene. Já os
comerciantes, de forma descarada, aumentando abusivamente os preços dos
produtos. Lucro em cima da tragédia é canalhice.
A
teoria de Angela Merkel, de que 70% da população da Alemanha poderá ser
contaminada pelo coronavírus é um alerta para o mundo. Por isso, defendo
medidas drásticas no Brasil: fechamento das fronteiras, restrição de voos
internacionais, triagens em aeroportos, portos e rodoviárias, quarentena. Para
salvar vidas precisamos, urgentemente, investir em respiradores artificiais. A
prioridade do Orçamento deve ser o combate à pandemia. Outras ações: fim do
teto dos gastos, fortalecimento do SUS, mais leitos de UTIs, contratações
emergenciais, expansão do bolsa família, dos benefícios da Previdência e do
seguro-desemprego. E ainda é preciso mais, muito mais.
A falta
de sintonia do governo é evidente. O momento não é de disputas. De nada adianta
incitar a fragmentação do País. Essa crise requer alta capacidade política. Os
interesses pessoais e de grupos são infinitamente menores do que a saúde e a
vida da nossa gente. Temos que entender que há uma séria crise social,
econômica e política e, reitero mais uma vez, na saúde, e que ela só será
resolvida a partir de uma grande concertação entre os Poderes e a
Sociedade.
Temos,
sim, que seguir em frente. Se há descaminhos, vamos enfrentar. Vamos
reflexionar o pensamento. A consciência
e o agir de cada um leva à plenitude coletiva, ao saber, à sabedoria, à
generosidade e à fraternidade, à amorosidade, ao êxtase das virtudes. Isso é
uma força gigantesca, incalculável, que habita em nós, desvenda a alma, nos
transforma em todo coração e em fluxo natural para desobstruir caminhos e curar
cicatrizes expostas. É algo superior que nos faz compreender situações, nos
capacita para separar o certo e o errado. Carl Gustav Jung dizia que somente
com a transformação da atitude do indivíduo é que começarão as mudanças
necessárias para o desenvolvimento da humanidade.
Senador Paulo Paim.