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13.Abril
Paulo Paim: ‘situação dos negros brasileiros na pandemia pode ser letal igual nos EUA’

No Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam que, depois de internadas, pessoas negras têm mais chance de morrer vítimas do Covid-19, o novo coronavírus, do que as brancas. O senador Paulo Paim (PT-RS) avalia, em entrevista concedida ao Alma Preta, que se nada for feito pelo governo nos próximos dias, a situação deve se agravar assim como nos Estados Unidos, onde a maioria das vítimas fatais da pandemia são negras.

“Em alguns países, como nos Estados Unidos, a pandemia já tem um nítido perfil racial e de classe. A maioria das vítimas fatais é negra e pobre. A exemplo do caso de Chicago, onde 70% das vítimas são negras, mas os negros compõem apenas 29% da população total. O mesmo perfil começa a sedimentar-se em Nova Iorque, Louisiana, etc. Situação semelhante deverá ocorrer no Brasil, se nada for feito nos próximos dias. A pobreza tem cor aqui e lá, é preta”, afirma.

No Senado Federal, Paim tem alertado sobre a importância de políticas voltadas para os brasileiros em maior vulnerabilidade social e econômica. Em entrevista, o senador também falou sobre os efeitos das reformas trabalhista e da previdência na pandemia. Confira:

Alma Preta: Com o Covid-19, o novo coronavírus, a economia passou a ser debatida de maneira intensa por parlamentares e a população em geral no cotidiano. Antes, o Brasil havia passado por uma grande discussão acerca da reforma trabalhista, que gerou uma maior flexibilização das leis trabalhistas. A pandemia tem mostrado em todo o mundo como a precarização do trabalho prejudica os mais vulneráveis. Diante disso, o que os poderes executivo e legislativo poderiam fazer no Brasil? Há possibilidade de maior regularização das relações de trabalho?

Paulo Paim: Precisamos de ação urgente do Estado. O governo editou tantas Medidas Provisórias (MPs) cruéis para o povo, que deveria editar agora medidas para beneficiar os 100 milhões de brasileiros afetados. Estamos cobrando diálogo do Executivo com o Congresso e os trabalhadores a fim de evitar uma convulsão social. A MP 905/19 (Contrato Verde e Amarelo) foi editada com a desculpa de gerar emprego e renda. Isso não aconteceu. O desemprego só cresceu. Querem votar em uma maldade dessas em um momento em que os trabalhadores estão mais fragilizados.

Já a MP 936 empurra a solução dos problemas para as empresas e os trabalhadores, individualmente, e ainda aumenta a insegurança jurídica. Os acordos coletivos devem ser priorizados. O investimento está aquém do necessário e do que era esperado. Eu apresentei 39 emendas nessa MP. O desemprego aumentará e muito. A situação é desesperadora. Por isso, apresentei também por meio de um Projeto de Lei (PL) uma proposta de ampliação do seguro desemprego até o fim do ano.

Outro ponto amplamente debatido foi a Reforma da Previdência. Uma das exigências para ter acesso ao direito é a comprovação de anos de trabalho. Com a pandemia e a recessão econômica que se anuncia, o que esperar do direito previdenciário no Brasil?

Embora os direitos previdenciários sejam fundamentais, neste momento, o país precisa de investimentos para garantir saúde, emprego e renda mínima aos trabalhadores. É preciso fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS) e revogar o teto de gastos (PEC 95). Fui relator da revogação dessa emenda na Comissão de Direitos Humanos e agora a matéria está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Desde o segundo mandato de Dilma Rousseff, o Brasil tem apostado em economistas liberais para o Ministério da Fazenda. A pandemia reabriu o debate no mundo acerca da participação ou ausência do Estado na economia. Como ficará daqui para frente, no Brasil, o discurso neoliberal? Qual será a participação do Estado daqui em diante?

Seria um caos acabar / reduzir ao mínimo o Estado em um momento de pandemia. Países no mundo inteiro estão mostrando que o governo precisa garantir condições às pessoas para que fiquem em casa, principalmente aos desempregados, trabalhadores informais, intermitentes e microempreendedores individuais. As maiores potências mundiais conservam a força do Estado, no Brasil não será diferente. Acredito que haverá um equilíbrio maior.

Quais outras medidas poderiam ser adotadas no plano econômico para garantir o direito à vida do povo brasileiro na pandemia?

Neste momento, o governo precisa dar incentivos às empresas para garantir a preservação dos empregos e evitar demissões em massa. Falta saneamento básico, água encanada, sabão, álcool em gel e até alimentação adequada para a maioria da população brasileira. Os altos índices de doenças como tuberculose, diabetes e problemas cardíacos atingem principalmente os mais vulneráveis e as comunidades carentes, quilombolas e indígenas.

Em alguns países, como nos Estados Unidos, a pandemia já tem um nítido perfil racial e de classe. A maioria das vítimas fatais é negra e pobre. A exemplo do caso de Chicago, onde 70% das vítimas são negras, mas os negros compõem apenas 29% da população total. O mesmo perfil começa a sedimentar-se em Nova Iorque, Louisiana, etc. Situação semelhante deverá ocorrer no Brasil, se nada for feito nos próximos dias. A pobreza tem cor aqui e lá, é preta. Temos que combater a concentração de renda no Brasil, que coloca o país no segundo lugar do ranking mundial. Isso tem que mudar.

Portal Alma Preta