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20.Novembro
Voto de repúdio - Grupo Carrefour

Senhor Presidente,

Requeremos,  nos  termos  do art.   222,   caput, do Regimento Interno do Senado Federal, inserção em ata de voto de repúdio ao grupo de Supermercados Carrefour do Brasil por mais um ato de brutal violência cometido pela equipe de segurança contratada pela rede de supermercados, que espancou até a morte João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos.

JUSTIFICAÇÃO
“O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”.(Martin  Luther King)

Na noite de 19 de novembro de 2020, véspera do dia da consciência negra, dois seguranças de empresa contratada pela rede de supermercados Carrefour espancaram até a morte João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos. A esse fato, ocorrido na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, registramos enfaticamente nosso mais veemente repúdio.
No Brasil, o assassinato de uma pessoa negra não é fato isolado, não é tragédia ocasional, não é fatalidade esporádica. No Brasil, o assassinato de pessoas negras, lamentavelmente, faz parte de um cotidiano distópico, cruel, que reflete um racismo estrutural contraditoriamente entranhado nas
 

raízes de um país profundamente miscigenado, mas que foi um dos últimos
países  do  mundo   a  abolir  a  escravidão  e  mantém  ainda   nos dias  atuais     resquícios de período escravocrata.
Segundo o atlas  da violência 2020, publicado pelo   Instituto  de      Pesquisa  Econômica  Aplicada   (IPEA)1,   do  total  de  homens   vítimas   de homicídio  no ano de 2018,  75,7% eram  negros. Não  é mera coincidência, é                  o racismo e a violência racial refletida em estatística. Como bem disse o
rapper  Emicida, que  brilhantemente traduz em  música  e poesia essa lancinante realidade, “existe pele alva e pele alvo”2.
De igual modo, esse cruel ato de violência não é fato isolado nas dependências da rede de supermercados Carrefour do Brasil. No ano de 2009 cinco seguranças da unidade de Osasco, em São Paulo, agrediram Januário Alves de Santana, um homem negro de 39 anos, enquanto ele tentava entrar no próprio carro – a alegação foi a de que o confundiram com um assaltante3. Em 2018, no Carrefour de São Bernardo do Campo, no ABC
Paulista, funcionários agrediram Luís Carlos Gomes, um homem negro e deficiente físico. Luiz abriu uma lata de cerveja dentro da unidade do supermercado e, mesmo afirmando que pagaria por ela, foi agredido, sofreu múltiplas fraturas e, após passar por cirurgia em decorrência das agressões, ficou com uma perna mais curta que a outra4.
Em agosto deste ano, o Carrefour foi palco de mais um episódio de violência, desrespeito e descaso com a vida humana. Na unidade de

Recife,  em  Pernambuco,  o  funcionário  Moisés   Santos  faleceu   enquanto trabalhava  no  supermercado.  A decisão desumana  da empresa estarreceu a   todos e ganhou repercussão nacional,  quando resolveu apenas cobrir o corpo do trabalhador  com guarda-sóis,  isolar  parcialmente   a área  com cervejas  e outros produtos, e manter a loja em funcionamento, como se nada houvesse acontecido5.
Esperamos que a rede de supermercados Carrefour não apenas se manifeste publicamente contra atos de racismo e de violência envolvendo funcionários a serviço da empresa, mas que adote também práticas concretas de treinamento da equipe diretamente contratada e terceirizada e que realize campanhas nacionais contra todas as formas de violência e contra o racismo. Não basta não ser racista, é preciso combater radicalmente o racismo.
Pelas razões expostas, ao tempo em que nos solidarizamos com os familiares de João Alberto Silveira Freitas e de todas as vítimas de racismo e de violência, oferecemos o presente voto de repúdio ao grupo de supermercados Carrefour do Brasil.

Sala das Sessões, em 20 de novembro de 2020.
DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA.


 
Senador FABIANO CONTARATO
(REDE/ES)
 
Senador PAULO PAIM
(PT/RS